Uma das mais importantes inovações nas linhas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) apresentada no Plano de Safra da Agricultura Familiar foi o Pronaf Agroecologia. Essa linha “incentivará projetos seja para a produção agroecológica ou para a transição rumo a uma agricultura sustentável. O governo estimulará o adequado manejo dos recursos naturais, agregando renda e qualidade de vida aos agricultores familiares” (MDA, 2003).
Esse fato motivou a disponibilização de informações sobre as premissas agroecológicas na página da assessoria. A sistematização dessas informações foi elaborada a partir dos clássicos da agroecologia entre os meados das duas ultimas décadas.
A estratégia agroecológica aponta um caminho concreto para promoção de uma tecnologia ecológica e adaptada para a pequena produção. Para produzir alimentos saudáveis, em terras sãs, a manutenção da saúde do solo e da água deve ser a meta primordial do trabalho agrícola. Tal afirmação tem fundamento, pois em uma floresta natural, a terra está coberta por uma vegetação espontânea. O desenvolvimento aéreo das plantas é devolvido á superfície do solo onde é decomposto, incorporando-se ao mesmo. O sistema radicular também contribuí na acumulação de matéria orgânica, bem como os restos de quantidades incalculáveis de micro e macro organismos. As copas das árvores protegem a superfície do solo contra o impacto das gotas de chuvas, do vento e da insolação. A natureza esponjosa e solta dos solos propicia uma máxima absorção de água. Os recursos hídricos, como o lençol freático, nascentes, rios e riachos, estão também protegidos (PRIMAVESI, 1984 e WEID & ALMEIDA, 1997).
Na agricultura convencional, após a derrubada da mata e/ou queimada, as terras normalmente são cultivadas sem considerar sua verdadeira aptidão agrícola, sem tomar as medidas necessárias de conservação e manejo adequado, cultivando culturas em linhas espaçadas, utilizando sistemas de exploração esgotadoras do solo, caracterizados pela excessiva movimentação, falta de cobertura e rotação de culturas e eventualmente com queima de resíduos culturais. A terra nua é a terra sem proteção. A terra desprotegida está sempre exposta ao sol e ao vento, que a ressecam. Quando vem a chuva forte e encontra a terra desprotegida e ressecada, não penetra, passa por cima arrastando a matéria orgânica que fica em sua superfície e o próprio solo (ocorrendo a erosão e a lixiviação). Os microorganismos e minhocas que vivem na terra, responsáveis pela fertilidade natural dos solos, morrem, pois não sobrevivem em solos quentes e sem umidade e matéria orgânica (PRIMAVESI, 1984).
Uma importante forma de proteger o solo e sua umidade e a matéria orgânica é fazer a cobertura morta, que é a cobertura do solo com uma camada de material vegetal morto colocada por cima da terra. Este material vegetal pode ser bagaço de cana, palha de milho, resto de grama, casca de arroz, palha de feijão e folhas. A cobertura morta ajuda a manter a umidade do solo, não deixando o solo ficar ressecado, nem deixa crescer muito mato (as famosas “ervas daninha”), protegendo a matéria orgânica do solo e assim, quando chove a água penetra mais facilmente, diminuindo a possibilidade de ocorrer erosão. Com o tempo, esta cobertura se decompõe, se transforma em nutrientes para o solo e aumenta a atividade biológica do solo. Além da cobertura morta, o solo deve estar sempre coberto com plantações ou com vegetação nativa, que pode ser chamada de cobertura viva. De preferência, com plantas que tenham profundidades e formatos de raízes diferentes, formando uma rede protetora do solo. A cobertura viva protege o solo da erosão de uma forma geral, e no caso das margens dos rios, evita que a terra desbarranque para a água (KIEHL, 1985 e MONEGAT, 1991).
Outra importante preocupação é que as linhas de plantação, quaisquer que sejam, devem ser feitas acompanhando as curvas de nível do terreno. A curva de nível é traçada cortando o sentido de maior inclinação do terreno, no sentido contrário ao caminho da chuva, de maneira a impedir que a água da chuva forme enxurrada, lavando a terra. Com os canteiros orientados pela curva de nível , a água das chuvas fica presa entre eles, e com ajuda da cobertura morta e viva, penetra no terreno.
Para um bom manejo ecológico do solo, é sempre necessário haver adubação com matéria orgânica, que veio em última instância do solo, a ele retorna transformando-se em nutriente, o qual é assimilado pelas plantas, completando assim, o CICLO DA VIDA. No solo, são encontrados milhares de microorganismos vivos e pequenos animais, intimamente associados com a fração orgânica. A incorporação de matéria orgânica ao solo intensifica a atividade biológica. Tal atividade é provocada por organismos que vivem nos solos, que são agentes ativos da decomposição e podem ser classificados em microscópicos (microflora - bactérias, fungos actinomicetos e algas e microfauna - protozoários, nematóides e infusórios) e macroscópicos (formigas, minhocas, centopéias, aranhas, besourinhos, lesmas e caracóis). A natureza predominante, o número, as espécies e o grau de atividade dos agentes ativos da decomposição são conseqüência da qualidade e quantidade de materiais que servem de alimento, das condições físicas (textura, estrutura e umidade) e químicas (quantidades de sais, nutrientes e pH) encontrados nos solos(PRIMAVESI, 1984).
Para que a matéria orgânica possa fornecer nutrientes às plantas ela necessita sofrer um processo de decomposição microbiológica, acompanhada da mineralização dos seus constituintes orgânicos. Ao se decompor, gera compostos minerais assimiláveis pelas plantas. Por isso, ao incorporar resíduos de plantas ou animais ao solo, se as condições de umidade e aeração forem favoráveis e houver a presença de microorganismos, haverá decomposição. O resultado da intensa digestão da matéria orgânica é a liberação de elementos químicos que estarão disponíveis para as plantas. As plantas necessitam de elementos químicos essenciais para sua "alimentação", subdivididos em macronutrientes e micronutrientes. Nem todos os nutrientes, são obtidos do solo, pois hidrogênio(H) e o oxigênio(O) são do ar e da água. Todavia, todos estão presentes na matéria orgânica, e tornam-se disponíveis a partir de sua decomposição (PRIMAVESI, 1984; SIQUEIRA, 1993 e SIQUEIRA, 1994).
A incorporação da matéria orgânica ao solo tem outras importantes vantagens. Segundo KIEHL (1985), um dos efeitos da matéria orgânica sobre as propriedades físicas do solo, é a redução do impacto do peso de máquinas grandes, ou melhor, há uma diminuição do efeito da compactação, porque há uma contribuição para a agregação e estruturação do solo . A estruturação do solo, é importante para defendê-lo contra a erosão, isto porque os agregados, tendo maior tamanho que as partículas que as constituem (areia, silte e argila), são mais difíceis de serem arrastados pelas enxurradas. Com uma boa agregação no solo e conseqüente estruturação, há uma relação equilibrada de drenagem, retenção da água e aeração, pois o solo, possui microporos e macroporos. Nos macroporos, deve estar o ar (O2) e nos microporos, a água. Desta forma, quando chove ou quando se irriga uma área, a água passa pelos macroporos e permanece nos microporos. A água dos microporos é que é a água disponível para as plantas e que será absorvida com os nutrientes que nelas estão (KIEHL, 1985; MARCOS, 1968 e MOZART, s/d).
Outro fator importante do uso da matéria orgânica, é que ela tem a capacidade de ser corretiva da acidez e controladora da toxidez . A matéria orgânica humificada contribui para o solo ácido ficar com o pH mais favorável às plantas, possui também uma propriedade denominada poder tampão, que é a resistência que uma substância possui contra uma mudança brusca de pH .Além disso, a matéria orgânica eleva a superfície específica do solo, ou seja, faz com que o solo adquira uma elevada superfície de exposição. Em conseqüência, a capacidade de adsorsão de nutrientes e fornecimento destes às plantas é elevada, além do aumento da capacidade de retenção de água (PRIMAVESI, s/d).
Com a adubação orgânica, há liberação dos nutrientes aos poucos, não em sua totalidade, pois ficam alojados nos interstícios da matéria orgânica ainda em transformação e se desprendem pouco a pouco. Esta liberação segue as diretrizes da mudança na composição química do adubo e obedecem às necessidades imediatas das raízes. Além disto, os nutrientes não são sumariamente "lavados e carregados" durante a irrigação, tendo portanto a vantagem de fornecer o "alimento" das plantas bem dosado e por mais tempo (KIEHL, 1985 e PRIMAVESI, 1980, 1984 e 1990).
A maioria dos agentes de decomposição está associada naturalmente à matéria orgânica e é benéfica às plantas, exercendo importantes funções, como a decomposição de resíduos orgânicos e transformações em nutrientes assimiláveis pelas plantas. A matéria orgânica no solo, favorece o equilíbrio de microorganismos, e isto é muito importante, pois se houver um desequilíbrio a favor de um microorganismo, este poderá ser patógeno e causar alguma doença na planta (ALTIERE, 1989).
Pode-se dizer, portanto, que a matéria orgânica atua diretamente na biologia do solo, constituindo uma fonte de energia e de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico, mantendo o solo em estado de constante dinamismo e exercendo um importante papel na fertilidade e na produtividade das terras. Indiretamente, a matéria orgânica atua positivamente no solo por seus efeitos nas propriedades físicas, químicas e biológicas, melhorando as condições para a vida vegetal. Daí a justificativa para sua classificação como melhoradora ou condicionadora do solo (RUELLAN, 1998).
Os produtores agroecológicos atualmente desejam a obtenção adequada de nitrogênio e a manutenção de altos níveis de matéria orgânica no solo para garantir a máxima produtividade. Acreditam que a quantidade de matéria orgânica no solo está altamente correlacionada à sua produtividade e ao controle da erosão. Por isso, eles freqüentemente aplicam esterco e usam adubação verde e plantas para cobertura com o intuito de manter a matéria orgânica do solo. São conclusões sobre o uso da matéria orgânica por esses agricultores, que elas não agridem as raízes, e não se deixam levar facilmente pela águas. Mas é importante destacar que o uso da matéria orgânica na agricultura não é novidade. Desde o homem primitivo, houve uma procura por terras ricas em matéria orgânica. No Antigo Egito, a terra mais disputada era aquela situada as margens do Rio Nilo; em determinadas épocas do ano o rio transbordava, levando a matéria orgânica em suas águas e depositando-as nas áreas inundadas.
Os fenícios no Oriente e os Incas no Ocidente, descobriram que plantando em terraços, impediam as perdas de terras e matéria orgânica. Os índios Maias na América, ao plantar milho, colocavam um ou mais peixes nas cova, oferecendo-os aos Deuses; com isso realizavam, uma adubação orgânica com matéria prima de fácil decomposição e rica em nutrientes (principalmente o fósforo e o nitrogênio). No oriente, a prática da adubação orgânica realizada pela restituição ao solo dos restos de cultura e pela incorporação de estercos e camas animais, vem sendo realizada há muitos séculos. Na Velha Roma, os filósofos deixaram escrito que algumas práticas agrícolas, tais como, "estercação", calagem, adubação verde, rotação de culturas e cobertura morta eram comuns (KIEHL, 1985).
Para que ocorra um equilíbrio no agroecossistema, a diversificação e a interação de espécies animais e vegetais é de extrema importância, sendo que a ausência de qualquer um de seus componentes pode acarretar um desequilíbrio ecológico. Uma outra vantagem da diversificação é que ocorre a ciclagem de nutrientes entre as diferentes espécies, e o conseqüente aproveitamento máximo dos recursos naturais. A diversificação de espécies em um agroecossistema pode ser feita pela rotação e consórcio de culturas, barreiras vegetais, adubação verde, integração da produção animal à vegetal e agrofloresta (DOVER, 1992).
A rotação de culturas consiste em um planejamento racional de plantações diversas, alterando a distribuição no terreno em certa ordem e por determinado tempo. Por serem plantas diferentes, possuem sistemas radiculares que penetram na terra em busca de água e nutrientes em diferentes profundidades de horizontes, removendo-os (GLIESMAN, 1996a).
O consórcio de culturas é o plantio de diferentes espécies vegetais, simultaneamente sobre uma mesma área. Além da associação entre cultivos comerciais, o consórcio pode ser feito também com leguminosas para adubo verde e cultivos comerciais. As plantas podem interferir uma sobre as outras, seja de forma positiva, estimulando a velocidade de crescimento, aumentando o tamanho e a qualidade dos frutos, e a resistência à pragas e doenças, ou negativa, inibindo ou retardando o crescimento. Estas interferências ocorrem por meio da secreção das raízes, exsudação ou decomposição das folhas, disputa das raízes por um mesmo nível de solo, ou disputa por luminosidade. O consórcio de culturas pode contribuir no controle de pragas por meio do uso de plantas "iscas" preferidas pelos insetos, que aí se concentrarão, facilitando seu extermínio. Ou, ainda, pelo plantio de vegetais repelentes a determinados insetos, principalmente ervas aromáticas (ALTIERE, 1989 e GLIESMAN, 1996b).
O vento resseca o solo e pode quebrar as plantas, ou parte delas. Para proteger a plantação do vento, além da cobertura do solo, faz-se barreiras com plantas vivas, normalmente de porte alto. Estas barreiras são chamadas de quebra-vento, pois direcionam o vento para cima, não deixando passar rasteiro. Pode-se fazer barreiras com árvores que servem como adubo verde e lenha (leucena, angico, acácia), com frutíferas (banana, goiaba, laranja) e com plantas que o gado pode se alimentar (guandu, cana-de-açucar, leucena). Outras importantes vantagens da barreira vegetal é que ela pode ser uma barreira para determinadas doenças de plantas e pragas e usada a sua "poda" para adubar a terra (em compostos e cobertura morta).
A adubação verde, além de fazer parte da diversificação de um agroecossitema, é um excelente adubo, pois além de proteger o solo, pode ser a ele incorporado. Quando a adubação verde é feita com leguminosas sua associação com bactérias do gênero Rhizobium, proporciona a fixação de nitrogênio do ar no solo, reduzindo dramaticamente o consumo de adubo sintético nitrogenado, e por conseqüência a poluição do solo e água (LEONARDOS, 1998).
A integração da produção animal à vegetal em um agroecossistema é fundamental, pois os restos vegetais podem alimentar os animais e seu esterco e urina podem ser utilizados como adubo de alta qualidade. Mas a produção animal em sistema agroecológico deve levar em conta algumas questões, tais como o não confinamento do gado, diversificação de ração, uso de rações produzidas na propriedade sem hormônios e antibióticos, rotação de pastagens e medicina veterinária preventiva e natural (PRIMAVESI, 1985 e VENEGAS, 1996).
Um outro manejo extremamente importante da agroecologia é a agrofloresta. Segundo Amador (1999), os sistemas agroflorestais são formas de manejo da terra em que as espécies agrícolas e florestais são plantadas e manejadas em associação, segundo os princípios da dinâmica natural dos ecossistemas. Representam a interface entre a agricultura e a floresta, e otimizam a produção por meio da conservação do potencial produtivo dos recursos naturais. Os princípios do manejo agroflorestal incluem o conhecimento das características ecológicas e funcionais das espécies, a diversidade e a alta densidade de plantas, a poda, a capina seletiva e a participação humana e animal na dinâmica das agroflorestas. São sistemas regenerativos e análogos aos sistemas naturais, com grande potencial de aliar a conservação ambiental à produção e viabilidade econômica, representando uma aproximação real do ideal da sustentabilidade (AMADOR, 1999).
Existe um caminho para reduzir a população de organismos prejudiciais, ao nível em que ela já não representa uma preocupação, nem é capaz de causar prejuízo. Este caminho é o controle biológico, também simplesmente referido como biocontrole, que é o uso deliberado de organismos benéficos (agentes) contra organismos prejudiciais (alvos). É, portanto, a disseminação de inimigos naturais contra pragas ou ervas daninhas específicas. Insetos, bactérias, vírus, protozoários, fungos nematóides, ácaros e insetos e até mesmo sapos e aves insetívoras podem ser utilizados no controle biológico .
O controle biológico introduz um fator decisivo de mortalidade, capaz de fazer com que a população de pragas retorne à sua situação primária, ou seja, em níveis populacionais não prejudiciais. Um projeto de biocontrole não tem o objetivo de reintroduzir toda a complexidade e a diversidade do habitat natural, mas sim introduzir um ou alguns agentes fundamentais que proporcionem alta mortalidade às pragas específicas.
O controle biológico clássico envolve essencialmente a pesquisa para identificar inimigos naturais no seu ambiente nativo, onde eles estão exercendo uma pressão reguladora importante sobre a praga. Estes inimigos naturais são coletados e enviados ao país ou região onde, na sua ausência, a praga se dissemina de forma explosiva. Aí, então, existe o problema de não ser sustentável, pois está se importando o inimigo natural. Além do custo, corre-se o risco de, ao se introduzir uma determinada espécie criar um outro tipo de desequilíbrio.
A erradicação de uma praga é considerada ambiciosa e raramente é conseguida. Além disso, um inimigo natural que eliminasse completamente a sua presa ficaria sem alimento, consequentemente, também se extinguiria. É mais desejável reduzir a população da praga a números que não signifiquem uma preocupação, permitindo que alguns indivíduos persistam para garantir a sobrevivência dos organismos controladores. Assim, esses organismos mantêm a sua população e impedem que a praga volte a assumir níveis prejudiciais. Quando o agroecossistema está em equilíbrio este tipo de condição acontece por que todas as populações de organismos, na natureza, sofrem restrições que impedem seu crescimento ilimitado. Tais restrições podem acontecer por efeitos independentes do tamanho das populações sobre as quais eles agem, ou seja, fatores independentes da densidade ou por fatores dependentes da densidade (ALTIERE, 1989).
Nas comunidades naturais, existe uma rede de interações entre indivíduos de uma espécie (intra-específica) e interespecífica. A competição intra-específica por recursos limitados de alimento e espaço pode restringir uma população a um limite máximo de crescimento. Em comunidades naturais, tanto a competição inter como intra-específicas desempenham papel regulador muito importante (PRIMAVESI, 1988 e LIEBMAN, 1997).
Espécies diferentes, com necessidades semelhantes de recursos e pouco flexíveis, vão revelar um grau mais elevado de competição, juntamente com a influência de inimigos naturais, determinando o tamanho relativo das populações. Estas espécies que coexistem, cada uma com sua própria história quanto à seleção natural, constituem as comunidades naturais. Dentro destas comunidades, os tipos de espécies presentes e sua abundância são relativamente constantes de um ano para outro.
Por outro lado quando o solo é arado e uma nova e única cultura é introduzida, o habitat é alterado drasticamente. Novas condições são apresentadas a cada indivíduo e estas podem ser favoráveis ou não. Muitas espécies de animais e plantas desaparecem, enquanto outras são instantaneamente estimuladas a crescer por causa dos recursos abundantes e do espaço aberto. A ausência de inimigos naturais, e a competição reduzida de indivíduos de outras espécies, permitem que esta nova população se expanda rapidamente. Por exemplo uma planta pode disseminar-se pelo solo, competindo com a cultura e este comportamento a qualifica como erva daninha ou um animal que em outras circunstâncias seria inofensivo aumenta em número drasticamente, tornando-se praga (PRIMAVESI, 1984).
A conservação de todos os inimigos naturais é essencial, principalmente quando são nativos. Por isto é extremamente importante a adoção de métodos agrícolas que estimulem estes inimigos naturais, assim como banir o uso de inseticidas. O mais interessante é que haja no agroecossistema um equilíbrio entre as presas e os predadores para que o controle seja natural. Em certas ocasiões, um inimigo natural nativo ou exótico aparece sem a influência do homem e este fator é eficaz para o controle de uma praga, a este fenômeno se dá o nome de controle biológico fortuito. Este tipo de controle acontece com muita frequência, quando o agroecossistema está equilibrado (ALTIERE, 1989).
O manejo agroecológico favorece os processos naturais e as interações biológicas positivas, possibilitando que a biodiversidade nos agroecossistemas subsidie a fertilidade dos solos, a proteção dos cultivos contra enfermidades e pragas. Melhor dizendo, por meio de diversificação espacial e temporal do sistema de produção e do manejo ecológico dos solos, sustenta-se em seu interior um equilíbrio e uma "infra-estrutura ecológica" que otimiza sinergias entre os seus diferentes componentes, diminuindo a necessidade do aporte de insumos externos. Por exemplo, se existe diversidade de insetos benéficos (predadores e parasitóides) nos sistemas produtivos, será menor a possibilidade de desenvolvimento de pragas, eliminando a necessidade de uso de inseticidas. Se o solo for biologicamente ativo, potencializa-se sobremaneira o processo de ciclagem de nutrientes, minimizando a necessidade de fertilizantes sintéticos. A tecnologia utilizada nos sistemas agroecológicos é multifuncional na medida em que promove efeitos ecológicos positivos, tanto no que se refere à manutenção de bons níveis de produtividade quanto à conservação dos recursos naturais, de forma a garantir a sua sustentabilidade ecológica (PETERSEN, 1999 e REIJNTES, 1994).
Esse fato motivou a disponibilização de informações sobre as premissas agroecológicas na página da assessoria. A sistematização dessas informações foi elaborada a partir dos clássicos da agroecologia entre os meados das duas ultimas décadas.
A estratégia agroecológica aponta um caminho concreto para promoção de uma tecnologia ecológica e adaptada para a pequena produção. Para produzir alimentos saudáveis, em terras sãs, a manutenção da saúde do solo e da água deve ser a meta primordial do trabalho agrícola. Tal afirmação tem fundamento, pois em uma floresta natural, a terra está coberta por uma vegetação espontânea. O desenvolvimento aéreo das plantas é devolvido á superfície do solo onde é decomposto, incorporando-se ao mesmo. O sistema radicular também contribuí na acumulação de matéria orgânica, bem como os restos de quantidades incalculáveis de micro e macro organismos. As copas das árvores protegem a superfície do solo contra o impacto das gotas de chuvas, do vento e da insolação. A natureza esponjosa e solta dos solos propicia uma máxima absorção de água. Os recursos hídricos, como o lençol freático, nascentes, rios e riachos, estão também protegidos (PRIMAVESI, 1984 e WEID & ALMEIDA, 1997).
Na agricultura convencional, após a derrubada da mata e/ou queimada, as terras normalmente são cultivadas sem considerar sua verdadeira aptidão agrícola, sem tomar as medidas necessárias de conservação e manejo adequado, cultivando culturas em linhas espaçadas, utilizando sistemas de exploração esgotadoras do solo, caracterizados pela excessiva movimentação, falta de cobertura e rotação de culturas e eventualmente com queima de resíduos culturais. A terra nua é a terra sem proteção. A terra desprotegida está sempre exposta ao sol e ao vento, que a ressecam. Quando vem a chuva forte e encontra a terra desprotegida e ressecada, não penetra, passa por cima arrastando a matéria orgânica que fica em sua superfície e o próprio solo (ocorrendo a erosão e a lixiviação). Os microorganismos e minhocas que vivem na terra, responsáveis pela fertilidade natural dos solos, morrem, pois não sobrevivem em solos quentes e sem umidade e matéria orgânica (PRIMAVESI, 1984).
Uma importante forma de proteger o solo e sua umidade e a matéria orgânica é fazer a cobertura morta, que é a cobertura do solo com uma camada de material vegetal morto colocada por cima da terra. Este material vegetal pode ser bagaço de cana, palha de milho, resto de grama, casca de arroz, palha de feijão e folhas. A cobertura morta ajuda a manter a umidade do solo, não deixando o solo ficar ressecado, nem deixa crescer muito mato (as famosas “ervas daninha”), protegendo a matéria orgânica do solo e assim, quando chove a água penetra mais facilmente, diminuindo a possibilidade de ocorrer erosão. Com o tempo, esta cobertura se decompõe, se transforma em nutrientes para o solo e aumenta a atividade biológica do solo. Além da cobertura morta, o solo deve estar sempre coberto com plantações ou com vegetação nativa, que pode ser chamada de cobertura viva. De preferência, com plantas que tenham profundidades e formatos de raízes diferentes, formando uma rede protetora do solo. A cobertura viva protege o solo da erosão de uma forma geral, e no caso das margens dos rios, evita que a terra desbarranque para a água (KIEHL, 1985 e MONEGAT, 1991).
Outra importante preocupação é que as linhas de plantação, quaisquer que sejam, devem ser feitas acompanhando as curvas de nível do terreno. A curva de nível é traçada cortando o sentido de maior inclinação do terreno, no sentido contrário ao caminho da chuva, de maneira a impedir que a água da chuva forme enxurrada, lavando a terra. Com os canteiros orientados pela curva de nível , a água das chuvas fica presa entre eles, e com ajuda da cobertura morta e viva, penetra no terreno.
Para um bom manejo ecológico do solo, é sempre necessário haver adubação com matéria orgânica, que veio em última instância do solo, a ele retorna transformando-se em nutriente, o qual é assimilado pelas plantas, completando assim, o CICLO DA VIDA. No solo, são encontrados milhares de microorganismos vivos e pequenos animais, intimamente associados com a fração orgânica. A incorporação de matéria orgânica ao solo intensifica a atividade biológica. Tal atividade é provocada por organismos que vivem nos solos, que são agentes ativos da decomposição e podem ser classificados em microscópicos (microflora - bactérias, fungos actinomicetos e algas e microfauna - protozoários, nematóides e infusórios) e macroscópicos (formigas, minhocas, centopéias, aranhas, besourinhos, lesmas e caracóis). A natureza predominante, o número, as espécies e o grau de atividade dos agentes ativos da decomposição são conseqüência da qualidade e quantidade de materiais que servem de alimento, das condições físicas (textura, estrutura e umidade) e químicas (quantidades de sais, nutrientes e pH) encontrados nos solos(PRIMAVESI, 1984).
Para que a matéria orgânica possa fornecer nutrientes às plantas ela necessita sofrer um processo de decomposição microbiológica, acompanhada da mineralização dos seus constituintes orgânicos. Ao se decompor, gera compostos minerais assimiláveis pelas plantas. Por isso, ao incorporar resíduos de plantas ou animais ao solo, se as condições de umidade e aeração forem favoráveis e houver a presença de microorganismos, haverá decomposição. O resultado da intensa digestão da matéria orgânica é a liberação de elementos químicos que estarão disponíveis para as plantas. As plantas necessitam de elementos químicos essenciais para sua "alimentação", subdivididos em macronutrientes e micronutrientes. Nem todos os nutrientes, são obtidos do solo, pois hidrogênio(H) e o oxigênio(O) são do ar e da água. Todavia, todos estão presentes na matéria orgânica, e tornam-se disponíveis a partir de sua decomposição (PRIMAVESI, 1984; SIQUEIRA, 1993 e SIQUEIRA, 1994).
A incorporação da matéria orgânica ao solo tem outras importantes vantagens. Segundo KIEHL (1985), um dos efeitos da matéria orgânica sobre as propriedades físicas do solo, é a redução do impacto do peso de máquinas grandes, ou melhor, há uma diminuição do efeito da compactação, porque há uma contribuição para a agregação e estruturação do solo . A estruturação do solo, é importante para defendê-lo contra a erosão, isto porque os agregados, tendo maior tamanho que as partículas que as constituem (areia, silte e argila), são mais difíceis de serem arrastados pelas enxurradas. Com uma boa agregação no solo e conseqüente estruturação, há uma relação equilibrada de drenagem, retenção da água e aeração, pois o solo, possui microporos e macroporos. Nos macroporos, deve estar o ar (O2) e nos microporos, a água. Desta forma, quando chove ou quando se irriga uma área, a água passa pelos macroporos e permanece nos microporos. A água dos microporos é que é a água disponível para as plantas e que será absorvida com os nutrientes que nelas estão (KIEHL, 1985; MARCOS, 1968 e MOZART, s/d).
Outro fator importante do uso da matéria orgânica, é que ela tem a capacidade de ser corretiva da acidez e controladora da toxidez . A matéria orgânica humificada contribui para o solo ácido ficar com o pH mais favorável às plantas, possui também uma propriedade denominada poder tampão, que é a resistência que uma substância possui contra uma mudança brusca de pH .Além disso, a matéria orgânica eleva a superfície específica do solo, ou seja, faz com que o solo adquira uma elevada superfície de exposição. Em conseqüência, a capacidade de adsorsão de nutrientes e fornecimento destes às plantas é elevada, além do aumento da capacidade de retenção de água (PRIMAVESI, s/d).
Com a adubação orgânica, há liberação dos nutrientes aos poucos, não em sua totalidade, pois ficam alojados nos interstícios da matéria orgânica ainda em transformação e se desprendem pouco a pouco. Esta liberação segue as diretrizes da mudança na composição química do adubo e obedecem às necessidades imediatas das raízes. Além disto, os nutrientes não são sumariamente "lavados e carregados" durante a irrigação, tendo portanto a vantagem de fornecer o "alimento" das plantas bem dosado e por mais tempo (KIEHL, 1985 e PRIMAVESI, 1980, 1984 e 1990).
A maioria dos agentes de decomposição está associada naturalmente à matéria orgânica e é benéfica às plantas, exercendo importantes funções, como a decomposição de resíduos orgânicos e transformações em nutrientes assimiláveis pelas plantas. A matéria orgânica no solo, favorece o equilíbrio de microorganismos, e isto é muito importante, pois se houver um desequilíbrio a favor de um microorganismo, este poderá ser patógeno e causar alguma doença na planta (ALTIERE, 1989).
Pode-se dizer, portanto, que a matéria orgânica atua diretamente na biologia do solo, constituindo uma fonte de energia e de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico, mantendo o solo em estado de constante dinamismo e exercendo um importante papel na fertilidade e na produtividade das terras. Indiretamente, a matéria orgânica atua positivamente no solo por seus efeitos nas propriedades físicas, químicas e biológicas, melhorando as condições para a vida vegetal. Daí a justificativa para sua classificação como melhoradora ou condicionadora do solo (RUELLAN, 1998).
Os produtores agroecológicos atualmente desejam a obtenção adequada de nitrogênio e a manutenção de altos níveis de matéria orgânica no solo para garantir a máxima produtividade. Acreditam que a quantidade de matéria orgânica no solo está altamente correlacionada à sua produtividade e ao controle da erosão. Por isso, eles freqüentemente aplicam esterco e usam adubação verde e plantas para cobertura com o intuito de manter a matéria orgânica do solo. São conclusões sobre o uso da matéria orgânica por esses agricultores, que elas não agridem as raízes, e não se deixam levar facilmente pela águas. Mas é importante destacar que o uso da matéria orgânica na agricultura não é novidade. Desde o homem primitivo, houve uma procura por terras ricas em matéria orgânica. No Antigo Egito, a terra mais disputada era aquela situada as margens do Rio Nilo; em determinadas épocas do ano o rio transbordava, levando a matéria orgânica em suas águas e depositando-as nas áreas inundadas.
Os fenícios no Oriente e os Incas no Ocidente, descobriram que plantando em terraços, impediam as perdas de terras e matéria orgânica. Os índios Maias na América, ao plantar milho, colocavam um ou mais peixes nas cova, oferecendo-os aos Deuses; com isso realizavam, uma adubação orgânica com matéria prima de fácil decomposição e rica em nutrientes (principalmente o fósforo e o nitrogênio). No oriente, a prática da adubação orgânica realizada pela restituição ao solo dos restos de cultura e pela incorporação de estercos e camas animais, vem sendo realizada há muitos séculos. Na Velha Roma, os filósofos deixaram escrito que algumas práticas agrícolas, tais como, "estercação", calagem, adubação verde, rotação de culturas e cobertura morta eram comuns (KIEHL, 1985).
Para que ocorra um equilíbrio no agroecossistema, a diversificação e a interação de espécies animais e vegetais é de extrema importância, sendo que a ausência de qualquer um de seus componentes pode acarretar um desequilíbrio ecológico. Uma outra vantagem da diversificação é que ocorre a ciclagem de nutrientes entre as diferentes espécies, e o conseqüente aproveitamento máximo dos recursos naturais. A diversificação de espécies em um agroecossistema pode ser feita pela rotação e consórcio de culturas, barreiras vegetais, adubação verde, integração da produção animal à vegetal e agrofloresta (DOVER, 1992).
A rotação de culturas consiste em um planejamento racional de plantações diversas, alterando a distribuição no terreno em certa ordem e por determinado tempo. Por serem plantas diferentes, possuem sistemas radiculares que penetram na terra em busca de água e nutrientes em diferentes profundidades de horizontes, removendo-os (GLIESMAN, 1996a).
O consórcio de culturas é o plantio de diferentes espécies vegetais, simultaneamente sobre uma mesma área. Além da associação entre cultivos comerciais, o consórcio pode ser feito também com leguminosas para adubo verde e cultivos comerciais. As plantas podem interferir uma sobre as outras, seja de forma positiva, estimulando a velocidade de crescimento, aumentando o tamanho e a qualidade dos frutos, e a resistência à pragas e doenças, ou negativa, inibindo ou retardando o crescimento. Estas interferências ocorrem por meio da secreção das raízes, exsudação ou decomposição das folhas, disputa das raízes por um mesmo nível de solo, ou disputa por luminosidade. O consórcio de culturas pode contribuir no controle de pragas por meio do uso de plantas "iscas" preferidas pelos insetos, que aí se concentrarão, facilitando seu extermínio. Ou, ainda, pelo plantio de vegetais repelentes a determinados insetos, principalmente ervas aromáticas (ALTIERE, 1989 e GLIESMAN, 1996b).
O vento resseca o solo e pode quebrar as plantas, ou parte delas. Para proteger a plantação do vento, além da cobertura do solo, faz-se barreiras com plantas vivas, normalmente de porte alto. Estas barreiras são chamadas de quebra-vento, pois direcionam o vento para cima, não deixando passar rasteiro. Pode-se fazer barreiras com árvores que servem como adubo verde e lenha (leucena, angico, acácia), com frutíferas (banana, goiaba, laranja) e com plantas que o gado pode se alimentar (guandu, cana-de-açucar, leucena). Outras importantes vantagens da barreira vegetal é que ela pode ser uma barreira para determinadas doenças de plantas e pragas e usada a sua "poda" para adubar a terra (em compostos e cobertura morta).
A adubação verde, além de fazer parte da diversificação de um agroecossitema, é um excelente adubo, pois além de proteger o solo, pode ser a ele incorporado. Quando a adubação verde é feita com leguminosas sua associação com bactérias do gênero Rhizobium, proporciona a fixação de nitrogênio do ar no solo, reduzindo dramaticamente o consumo de adubo sintético nitrogenado, e por conseqüência a poluição do solo e água (LEONARDOS, 1998).
A integração da produção animal à vegetal em um agroecossistema é fundamental, pois os restos vegetais podem alimentar os animais e seu esterco e urina podem ser utilizados como adubo de alta qualidade. Mas a produção animal em sistema agroecológico deve levar em conta algumas questões, tais como o não confinamento do gado, diversificação de ração, uso de rações produzidas na propriedade sem hormônios e antibióticos, rotação de pastagens e medicina veterinária preventiva e natural (PRIMAVESI, 1985 e VENEGAS, 1996).
Um outro manejo extremamente importante da agroecologia é a agrofloresta. Segundo Amador (1999), os sistemas agroflorestais são formas de manejo da terra em que as espécies agrícolas e florestais são plantadas e manejadas em associação, segundo os princípios da dinâmica natural dos ecossistemas. Representam a interface entre a agricultura e a floresta, e otimizam a produção por meio da conservação do potencial produtivo dos recursos naturais. Os princípios do manejo agroflorestal incluem o conhecimento das características ecológicas e funcionais das espécies, a diversidade e a alta densidade de plantas, a poda, a capina seletiva e a participação humana e animal na dinâmica das agroflorestas. São sistemas regenerativos e análogos aos sistemas naturais, com grande potencial de aliar a conservação ambiental à produção e viabilidade econômica, representando uma aproximação real do ideal da sustentabilidade (AMADOR, 1999).
Existe um caminho para reduzir a população de organismos prejudiciais, ao nível em que ela já não representa uma preocupação, nem é capaz de causar prejuízo. Este caminho é o controle biológico, também simplesmente referido como biocontrole, que é o uso deliberado de organismos benéficos (agentes) contra organismos prejudiciais (alvos). É, portanto, a disseminação de inimigos naturais contra pragas ou ervas daninhas específicas. Insetos, bactérias, vírus, protozoários, fungos nematóides, ácaros e insetos e até mesmo sapos e aves insetívoras podem ser utilizados no controle biológico .
O controle biológico introduz um fator decisivo de mortalidade, capaz de fazer com que a população de pragas retorne à sua situação primária, ou seja, em níveis populacionais não prejudiciais. Um projeto de biocontrole não tem o objetivo de reintroduzir toda a complexidade e a diversidade do habitat natural, mas sim introduzir um ou alguns agentes fundamentais que proporcionem alta mortalidade às pragas específicas.
O controle biológico clássico envolve essencialmente a pesquisa para identificar inimigos naturais no seu ambiente nativo, onde eles estão exercendo uma pressão reguladora importante sobre a praga. Estes inimigos naturais são coletados e enviados ao país ou região onde, na sua ausência, a praga se dissemina de forma explosiva. Aí, então, existe o problema de não ser sustentável, pois está se importando o inimigo natural. Além do custo, corre-se o risco de, ao se introduzir uma determinada espécie criar um outro tipo de desequilíbrio.
A erradicação de uma praga é considerada ambiciosa e raramente é conseguida. Além disso, um inimigo natural que eliminasse completamente a sua presa ficaria sem alimento, consequentemente, também se extinguiria. É mais desejável reduzir a população da praga a números que não signifiquem uma preocupação, permitindo que alguns indivíduos persistam para garantir a sobrevivência dos organismos controladores. Assim, esses organismos mantêm a sua população e impedem que a praga volte a assumir níveis prejudiciais. Quando o agroecossistema está em equilíbrio este tipo de condição acontece por que todas as populações de organismos, na natureza, sofrem restrições que impedem seu crescimento ilimitado. Tais restrições podem acontecer por efeitos independentes do tamanho das populações sobre as quais eles agem, ou seja, fatores independentes da densidade ou por fatores dependentes da densidade (ALTIERE, 1989).
Nas comunidades naturais, existe uma rede de interações entre indivíduos de uma espécie (intra-específica) e interespecífica. A competição intra-específica por recursos limitados de alimento e espaço pode restringir uma população a um limite máximo de crescimento. Em comunidades naturais, tanto a competição inter como intra-específicas desempenham papel regulador muito importante (PRIMAVESI, 1988 e LIEBMAN, 1997).
Espécies diferentes, com necessidades semelhantes de recursos e pouco flexíveis, vão revelar um grau mais elevado de competição, juntamente com a influência de inimigos naturais, determinando o tamanho relativo das populações. Estas espécies que coexistem, cada uma com sua própria história quanto à seleção natural, constituem as comunidades naturais. Dentro destas comunidades, os tipos de espécies presentes e sua abundância são relativamente constantes de um ano para outro.
Por outro lado quando o solo é arado e uma nova e única cultura é introduzida, o habitat é alterado drasticamente. Novas condições são apresentadas a cada indivíduo e estas podem ser favoráveis ou não. Muitas espécies de animais e plantas desaparecem, enquanto outras são instantaneamente estimuladas a crescer por causa dos recursos abundantes e do espaço aberto. A ausência de inimigos naturais, e a competição reduzida de indivíduos de outras espécies, permitem que esta nova população se expanda rapidamente. Por exemplo uma planta pode disseminar-se pelo solo, competindo com a cultura e este comportamento a qualifica como erva daninha ou um animal que em outras circunstâncias seria inofensivo aumenta em número drasticamente, tornando-se praga (PRIMAVESI, 1984).
A conservação de todos os inimigos naturais é essencial, principalmente quando são nativos. Por isto é extremamente importante a adoção de métodos agrícolas que estimulem estes inimigos naturais, assim como banir o uso de inseticidas. O mais interessante é que haja no agroecossistema um equilíbrio entre as presas e os predadores para que o controle seja natural. Em certas ocasiões, um inimigo natural nativo ou exótico aparece sem a influência do homem e este fator é eficaz para o controle de uma praga, a este fenômeno se dá o nome de controle biológico fortuito. Este tipo de controle acontece com muita frequência, quando o agroecossistema está equilibrado (ALTIERE, 1989).
O manejo agroecológico favorece os processos naturais e as interações biológicas positivas, possibilitando que a biodiversidade nos agroecossistemas subsidie a fertilidade dos solos, a proteção dos cultivos contra enfermidades e pragas. Melhor dizendo, por meio de diversificação espacial e temporal do sistema de produção e do manejo ecológico dos solos, sustenta-se em seu interior um equilíbrio e uma "infra-estrutura ecológica" que otimiza sinergias entre os seus diferentes componentes, diminuindo a necessidade do aporte de insumos externos. Por exemplo, se existe diversidade de insetos benéficos (predadores e parasitóides) nos sistemas produtivos, será menor a possibilidade de desenvolvimento de pragas, eliminando a necessidade de uso de inseticidas. Se o solo for biologicamente ativo, potencializa-se sobremaneira o processo de ciclagem de nutrientes, minimizando a necessidade de fertilizantes sintéticos. A tecnologia utilizada nos sistemas agroecológicos é multifuncional na medida em que promove efeitos ecológicos positivos, tanto no que se refere à manutenção de bons níveis de produtividade quanto à conservação dos recursos naturais, de forma a garantir a sua sustentabilidade ecológica (PETERSEN, 1999 e REIJNTES, 1994).
A tecnologia agroecológica busca alternativas energéticas que não poluam, como por exemplo a energia solar, a energia da força da água e do vento, pois tem um custo mais baixo (pelo menos, a médio e longo prazos) e não polui. Desta forma, pode-se afirmar, que é uma agricultura que tem, a médio e longo prazos, a capacidade de baixar custos. Além disso, as florestas, os rios e o lixo orgânico, no enfoque agroecológico, são encarados como úteis e necessários para a propriedade. As florestas são fornecedoras de matéria prima (lenha, madeira e frutos), auxiliando também na manutenção do equilíbrio ecológico e paisagístico. Os rios são fontes de água, peixes e lazer. O lixo orgânico pode ser transformado facilmente na propriedade em adubo de alta qualidade. Os praticantes da agroecologia buscam ainda produzir sua própria semente agroecológica (mais conhecida como semente orgânica), já que as comerciais, em sua larga maioria é melhorada geneticamente para somente obter alta produtividade com o uso de todos os itens do "Pacote da Revolução Verde". Outro importante motivo de se produzir as próprias sementes, é a independência que o agricultor ou sua forma organizativa adquire em relação às grandes empresas do setor (SHIVA, 1991; BERTRAND, 1991; CASADO, 1997; ZAPATA, 1997 e SCHAFFER, s/d).
A agroecologia não só oferece produtos mais saudáveis e nutritivos, mas também não polui o meio ambiente, preservando os recursos naturais e sendo claramente mais sustentável do que os sistemas convencionais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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