Chuva ácida
A chuva, neve ou neblina com alta concentração de ácidos em sua composição, conhecida como chuva ácida, é um problema ambiental que afeta particularmente a Ásia hoje, por causa do consumo crescente de combustíveis fósseis na região. O óxido de nitrogênio (NO) e os dióxidos de enxofre (SO2), principais componentes da chuva ácida, são liberados na queima de carvão e óleo, fontes de energia que movem as economias asiáticas. No decorrer da década de 90, os países da região lançam na atmosfera cerca de 34 milhões de toneladas de dióxido de enxofre ao ano, 40% a mais do que emitem os Estados Unidos (EUA), até então o maior responsável pela ocorrência do fenômeno. Esses números devem triplicar até 2010, sobretudo na China, Índia, Tailândia e Coréia do Sul, não só por causa do aumento da produção industrial e da frota de veículos, mas também porque esses países usam basicamente carvão para gerar energia. Na China, por exemplo, 70% da energia provém da queima desse combustível.
Ao retornar à superfície por meio da chuva, os ácidos alteram a composição do solo e das águas, comprometendo as lavouras, as florestas e a vida aquática. Também podem corroer edifícios, estátuas e monumentos históricos, o que já acontece em vários lugares da Europa e nas ruínas maias do México.
As precipitações ácidas se concentram historicamente nas áreas industriais do hemisfério norte. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) estima que cerca de 35% dos ecossistemas europeus se encontram degradados pela acidez da chuva. No leste dos EUA e na Europa Ocidental já foram registrados índices de acidez entre 2 e 3, numa escala de 0 a 14 – indicadores abaixo de 7 são considerados ácidos. Muitas espécies de peixes e quase todas as de moluscos não sobrevivem a índices abaixo de 4,8.
O que é chuva ácida?
Sabemos que o pH da água pura é 7,0, mas quando o dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera se dissolve na água, ocorre a formação do ácido carbônico (H2CO3), e portanto o pH da água em equilíbrio com o CO2 atmosférico é de 5,6. Veja a figura e equações mostrando a formação e dissociação do ácido carbônico:
O2 (g) + H2O (l) → H2CO3 (aq)
H2CO3 (aq) → H+ (aq) + HCO3- (aq)
HCO3- (aq) → H+ (aq) + CO32- (aq)
Apesar
da chuva em equilíbrio com o gás carbônico já ser ácida, só dizemos
que a chuva tem um excesso de acidez quando seu pH for menor que 5,6.
O aumento da acidez na chuva ocorre principalmente quando há um
aumento na concentração de óxidos de enxofre e nitrogênio na atmosfera.
Estes óxidos e o óxido de carbono são chamados de óxidos ácidos, porque
em contato com a água (neste caso água de chuva) formam ácidos.
Como é formada a chuva ácida?
O nitrogênio gasoso (N2) e o oxigênio molecular (O2) da
atmosfera podem reagir formando o monóxido de nitrogênio (NO). No entanto,
esta reação não é espontânea, necessitando de muita energia para ocorrer.
Por exemplo, durante a queima de combustível no motor do carro ou em fornos
industriais a temperatura é muito elevada, fornecendo a energia necessária
para que ocorra a formação do monóxido de nitrogênio de forma eficiente.
N2 (g) + O2 (g) → 2 NO (g) (em altas temperaturas)
O monóxido de nitrogênio pode ser oxidado na atmosfera (que contém O2) e formar o dióxido de nitrogênio (NO2)
que tem cor marrom. Muitas vezes, o fato do céu ter um tom marrom em
cidades com tantos veículos como São Paulo, se deve à formação do NO2
na atmosfera, somado com a grande emissão de material particulado
(incluindo a fuligem) que também escurece a atmosfera. O dióxido de
nitrogênio pode sofrer novas reações e formar o ácido nítrico (HNO3), que contribui para aumentar a acidez da água de chuva.
Um carro produzido em 1995 produz até 10 vezes mais NO que um
carro produzido hoje. Isto porque os carros modernos possuem um
conversor catalítico que reduz muito a formação do NO. O conversor
catalítico (ou catalisador) contém metais como paládio, platina e
ródio, que transforma grande parte dos gases prejudiciais à saúde e ao
meio ambiente, em gases inertes como N2 e CO2. Devemos lembrar que o CO2 é um gás que não prejudica diretamente a saúde humana, mas colabora para aumentar o efeito estufa.
2CO (g) + 2NO (g) 2CO2 (g) + N2 (g)
2CO (g) + O2 (g) 2CO2 (g)
2NO (g) N2 (g) + O2 (g)
É importante salientar que com ou sem catalisador o carro continua emitindo imensas quantidades de CO2 para a atmosfera. O catalisador tem um papel importantíssimo, mas atua de forma a minimizar apenas as emissões de CO e NO.
O dióxido de enxofre (SO2) é o responsável pelo maior
aumento na acidez da chuva. Este é produzido diretamente como
subproduto da queima de combustíveis fósseis como a gasolina, carvão e
óleo diesel. O óleo diesel e o carvão são muito impuros, e contém
grandes quantidades de enxofre em sua composição, sendo responsáveis
por uma grande parcela da emissão de SO2 para a atmosfera.
Atualmente no Brasil, a Petrobrás tem investido muito na purificação do
diesel a fim de diminuir drasticamente as impurezas que contém
enxofre.
De forma equivalente a outros óxidos, o SO2 reage com a água formando o ácido sulfuroso:
SO2 (g) + H2O (l) → H2SO3 (aq)
H2SO3 (aq) → H+(aq) + HSO3- (aq)
O dióxido de enxofre também pode sofre oxidação na atmosfera e formar o trióxido de enxofre (SO3), que por sua vez, em contato com a água da chuva irá formar o ácido sulfúrico (H2SO4), que é um ácido forte.
SO2 (g) + ½ O2 (g) → SO3 (g)
SO3 (g) + H2O (l) → H2SO4 (aq)
H2SO4 (aq) → 2H+ (aq) + SO42- (aq)
Algumas conseqüências da elevada emissão de SO2 .
A água de um lago em condições naturais tem o pH em torno de 6,5
– 7,0, podendo manter uma grande variedade de peixes, plantas e
insetos, além de manter animais e aves que vivem no seu entorno e se
alimentam no lago. O excesso de acidez na chuva pode provocar a
acidificação de lagos, principalmente aqueles de pequeno porte. O pH em
torno de 5,5 já pode matar larvas, pequenas algas e insetos,
prejudicando também os animais que dependem desses organismos para se
alimentar. No caso do pH da água chegar a 4,0 – 4,5, já pode ocorrer a
intoxicação da maioria das espécies de peixes e levá-los até a morte.
O solo também pode ser acidificado pela chuva, porém alguns
tipos de solo são capazes de neutralizar pelo menos parcialmente a
acidez da chuva por causa da presença de calcário e cal (CaCO3
e CaO) natural. Os solos que não têm calcário são mais suscetíveis à
acidificação. A neutralização natural da água de chuva pelo solo
minimiza o impacto da água que atinge os lagos pelas suas encostas
(lixiviação). Uma chuva ácida provoca um maior arreste de metais
pesados do solo para lagos e rios, podendo intoxicar a vida aquática.
Um outro fator muito importante sobre a emissão de SO2
é a formação de ácidos no corpo humano, a medida que respiramos. Este
ácido pode provocar problemas como coriza, irritação na garganta e
olhos e até afetar o pulmão de forma irreversível. No ano de 1952, na
cidade de Londres, aproximadamente 4000 pessoas morreram em poucos dias
como conseqüência da alta emissão de SO2 na atmosfera,
proveniente da queima do carvão nas casas e nas indústrias naquela
região. Normalmente esses gases eram dispersos para camadas mais
elevadas na atmosfera, mas na época houve um fenômeno metereológico
(inversão térmica) que causou um resfriamento súbito da atmosfera
impedindo a dispersão dos gases. Hoje em dia a cidade de Londres tem
uma atmosfera muito menos contaminada por SO2, e portanto um desastre de proporções tão grandes como as de 1952 é muito improvável de ocorrer.
A emissão de NO2, que provém principalmente da
queima de combustíveis pelos carros também pode provocar problemas
respiratórios e diminuir a resistências do organismo à vários tipos de
infecções.
A acidez da atmosfera não só afeta aos seres vivos como também
pode danificar a superfície de monumentos históricos e edifícios feitos
de mármore (CaCO3 ) por causa da reação com o ácido. Podemos representar esse ácido de forma genérica (H+):
CaCO3 (s) + 2H+(aq) → Ca2+ (aq) + H2O (l) + CO2 (g)
O ar poluído pode ser transportado?
Quando uma indústria emite gases e material particulado para a
atmosfera, podemos ver que a fumaça "viaja" pelo ar. Desta forma, quando
chover, esses contaminantes poderão ser depositados longe das fontes
emissoras.
Por exemplo, no Pólo Petroquímico de Cubatão (perto de Santos - SP) são emitidas toneladas de SO2
na atmosfera por ano, e a chuva que cai em cidades não
industrializadas, a mais de 100 km de distância, muitas vezes é ácida
por causa dessas indústrias. O SO2 produzido pela queima do
carvão na Termoelétrica da Candiota no Rio Grande do Sul chega até o
Uruguai, prejudicando o meio ambiente também daquele país. Esta é a
chamada poluição trans-fronteiriça,isto é, ultrapassa as fronteiras de
um país.