Parque Nacional da Serra das Lontras no Estado da Bahia
O Parque Nacional da Serra das Lontras, localizado nos Municípios de Arataca e Una, no Estado da Bahia, tem como objetivos de preservar sua elevada riqueza biológica, possibilitar o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, recreação em contato com a natureza e turismo ecológico, bem como o desenvolvimento de pesquisa científica.A Mata Atlântica é o bioma brasileiro mais ameaçado considerando que um pouco menos de 7% da sua cobertura original resta parcialmente preservada. Especialmente no sul da Bahia, o corte seletivo de madeira e o aumento de pastagens, plantações de café e eucalipto compõem as maiores ameaças para a região. Além disso, devido à importância histórica e a beleza paisagística das praias, os maiores esforços de conservação na região se concentraram até hoje nas áreas costeiras. Paralela à costa e distante aproximadamente 15km da Reserva Biológica de Una, está a Serra das Lontras, um complexo montanhoso com elevações variando entre 400 e 1000 metros de altitude, coberto por florestas tropicais. Como consequência da variação altitudinal, a Serra das Lontras apresenta um gradiente vegetacional que inclui florestas montanas nos topos da Serra. Isso a torna uma área muito rica em espécies endêmicas do sul da Bahia e do Espírito Santo, ao mesmo tempo em que possui alguma similaridade com florestas do sudeste. Levantamentos de fauna apontaram a importância desta área revelando a ocorrência de 295 espécies de aves, das quais 10 são globalmente ameaçadas de extinção e 2 são novas para a ciência (ainda não descritas).
A partir destas informações, a BirdLife/SAVE Brasil, em parceria com o Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (IESB), decidiram implementar ações de conservação na área da Serra das Lontras. Como um primeiro passo, quatro fazendas contíguas (465 hectares) foram adquiridas para constituírem uma reserva privada e uma área demonstrativa para produtores de cacau e trabalhadores rurais de cabruca orgânica (forma de cultivo tradicional na qual o cacau é plantado sob a sombra de árvores nativas de Mata Atlântica).
Nos arredores da fazenda adquirida, existem muitas propriedades familiares que sofreram imensas perdas de produção e de renda com a crise do cacau no final dos anos 80 e década de 90, ocasionada pela doença vassoura-de-bruxa (causada pelo fungo Crinipellis perniciosa) e o aumento da oferta de cacau no mercado internacional. Desde então, estes produtores se vêem estimulados a mudar do sistema tradicional de cabruca para cultivos ambientalmente degradantes, como as pastagens e o café de sol.
Fauna e flora
O tipo de vegetação permite a ocorrência de rica diversidade de aves: 330 espécies registradas, 16 delas globalmente ameaçadas de extinção e 13 quase ameaçadas.Foram registradas 735 espécies de angiospermas, 150 espécies de samambaias e licófitas.
No que se refere à flora, a região apresenta mais de 50 casos de endemismos restritos ao Sul da Bahia.
O estudo florístico no Complexo de Serras das Lontras foi iniciado em 2004, por meio de uma parceria entre o Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), o Jardim Botânico de Nova Iorque (NYBG) e a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), dentro de um projeto mais amplo que buscava realizar levantamentos da vegetação em áreas de Mata Atlântica acima de 700 metros de altitude no sul da Bahia.
A importância de uma vasta comunidade de plantas para o ecossistema é fundamental, especialmente no que se refere à manutenção da umidade e ao ciclagem dos nutrientes.
Densas populações de samambaias, além de prevenirem erosões por meio da estabilização do solo por suas raízes, ajudam a moderar a evaporação e evitam flutuações acentuadas de umidade. Isso favorece o desenvolvimento de diversos tipos de micro-organismos, extremamente necessários ao equilíbrio ecológico do ambiente.
O Complexo de Serras das Lontras destaca-se por uma avifauna diversa sendo considerada uma área importante para a conservação das aves pelos critérios globais da BirdLife International (www.birdlife.org/).
A região é ainda pouco conhecida e pouco estudada do ponto de vista de sua diversidade de espécies. Em relação aos mamíferos, um único estudo realizado na região teve como objetivo inventariar as espécies, duas espécies de primatas e três espécies de felinos ameaçadas de extinção ocorrem na área. Existem, ao menos, 38 espécies de mamíferos não voadores e mais de 330 espécies de aves presentes na região.
Relevo e clima
As Serras das Lontras pertencem a uma associação de rochas denominada de Complexo Buerarema, cuja formação data do Pré-Cambriano, a cerca de 1,9 a 2,1 bilhões de anos. Este complexo apresenta rochas denominadas de ortognaisses granulíticos.O Complexo de Serras das Lontras faz parte da unidade geomorfológica das serras e maciços pré-litorâneos que comporta grande variação de altitude, uma vez que os trechos mais rebaixados chegam a menos de 100 metros de altitude, enquanto alguns topos residuais podem atingir mais de 1.000 metros (Serra do Javi).
O relevo na região das Serras das Lontras é muito movimentado, apresentando-se em algumas posições como fortemente ondulado e, em outras, montanhoso. Não é rara a presença do relevo escarpado.
Nas áreas de drenagem na região do Complexo de Serras das Lontras encontra-se a grande maioria de nascentes que dão origem aos afluentes que compõem a bacia do Rio Una, importante Bacia Hidrográfica da região Sul da Bahia. São inúmeros os cursos de água que nascem nessa área, tais como o Rio Ribeirão, Pratinhas, Ribeirão Santo Antônio, Ribeirão Javi, Ribeirão Sepultura e o Ribeirão Aliança.
A grande declividade presente em muitas vertentes faz do lugar um ambiente rico em quedas d’água, em sua maioria de pequeno porte. Nessa região, as chuvas são bem distribuídas, havendo um predomínio de meses chuvosos, notando-se apenas os meses de maio e agosto como os mais secos. As precipitações atingem valores entre 1.300 mm e 1.600 mm nos municípios mais próximos, enquanto a temperatura média anual é de 23,3ºC em Una, 22,7ºC em Jussari e 23,6ºC em Buerarema.
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