Sistemas Agroecológicos de Plantio

Sistemas Agroecológicos de Plantio

Sistemas agroflorestaisSistemas Agroflorestais

A principal estratégia utilizada para a conservação da biodiversidade é a criação de Unidades de Conservação da Natureza (RylANDS; BRANDoN, 2005). Entretanto,  mesmo as áreas protegidas sofrem ações antrópicas negativas, como a caça e o fogo gerado pelas queimadas em áreas agrícolas vizinhas (G R I ff I T H ,  2000;  M E DE I R o S ; fIEDlER, 2004). Além disso, geralmente, o conjunto de Unidades de Conservação de uma região não abrange todas as fitofisionomias existentes (CAMpoS;  CoSTA  fIlHo, 2005). Assim, novas estratégias devem ser utilizadas para cobrir essa lacuna. Como, na realidade atual, as áreas com florestas estão inseridas em uma matriz de pastagens e áreas agrícolas (zAU, 1998), diversos autores sugerem que os agricultores devam ser incluídos nos planos de conservação da biodiversidade, principalmente através do estímulo à adoção de meios produtivos diversificados e práticas conservacionistas (HUANG et al., 2002; QUEIRoz  et al., 2006). Embora a agricultura seja a principal atividade causadora de impactos, em grande extensão, ela tem importância vital para a maioria dos países em desenvolvimento, onde 60% da população economicamente ativa e 50% da economia rural estão envolvidas com essa prática (wooD; lINNE, 2005). Práticas agrícolas que incorporem alta diversidade de espécies, densidade e altura (criando vários estratos), podem conter níveis de diversidade similarmente próximos aos das florestas nativas, além de facilitar a dispersão entre fragmentos, manter a dinâmica de metapopulações e a sobrevivência de espécies em longo prazo (p H I lpoT T;  ARMBRECH T, 2006) por outro lado, as paisagens dominadas por pastagens subutilizadas e com tendência de degradação, além de serem um problema para a conservação da diversidade biológica, também  indic am  que os pecuar istas e agricultores devem estar em situação precária. Esses ambientes degradados são propensos, por exemplo, à erosão, perda de fertilidade e, consequentemente, de produtividade, o que contribui  sinergicamente para a geração de problemas sociais. por outro lado, agroecossistemas diversificados, como os sistemas agroflorestais (SAfs), são apontados como meios produtivos mais sustentáveis, propensos a manter a produtividade por um longo período (CASTRo et al., 2009). 

Também são capazes de cumprir funções ambientais, como aumentar a infiltração da água no solo, diminuir a erosão e colaborar com a conser vaç ão da  biodiversidade (HUANG et al., 2002; CAMpANHA et al., 2007). Segundo MacDicken e vergara (1990), sistemas agroflorestais podem incluir a combinação de atividades agrícolas, florestais e pecuárias, com objetivo principal de reduzir riscos. Ainda segundo esses autores, tais sistemas são mais estáveis e sustentáveis quando comparados com monoculturas. os principais problemas enfrentados pelos pequenos produtores agrícolas são a erosão e a perda da fertilidade natural do solo, além disso, o cultivo de somente uma espécie se traduz em consideráveis riscos econômicos. por  outro  lado, SAfs são economic amente  viáveis, aumentam  a renda dos produtores, representam uma alternativa para a diversificação da produção e contribuem para a recuperação ambiental (GAMA, 2003). Assim, estimular pequenos fazendeiros a adotarem sistemas agroflorestais pode ser uma boa estratégia para conciliar produção com  a  conser vaç ão  da  biodiversidade  (H UA N G  et  al., 2002). para  Gr iffith (2000), sistemas agroflorestais podem ser não só o habitat definitivo, como também um importante refúgio para a fauna silvestre após queimadas, principalmente tendo em vista que as Unidades de Conservação, que são consideradas importantes refúgios para a biodiversidade, também sofrem com a ação do fogo. Em grande parte do Brasil, é comum o descumprimento do Código florestal (lei N° 4.771, de 15 de setembro de 1965) no que tange à manutenção das áreas de Reserva legal  (Rl)  e das Áreas de preser vação permanente  (App),  que possuem elevada importância para a proteção da biota. os SAfs poderiam  ajudar na recuperação das Apps,  Rls e corredores florestais, pois proporcionam efeitos positivos ao crescimento das árvores e reduzem os custos de implantação (AMADoR; vIANA, 1998, SIlvA, 2002; RoDRIGUES et al., 2008).

Espiral de ervas
Espiral de ervasEspiral de ervas é um método de cultivo que otimiza o aproveitamento de água, luz e espaço pelos vegetais, reduzindo desperdícios e perda de energia e matéria orgânica produzida pelo sistema.

Para a montagem utilizam-se pedras, madeira ou qualquer outro material disponível, de modo a formar uma figura de espiral crescente, estando o ponto mais alto da espiral no centro da mesma. Toda a estrutura é preenchida com terra, e em seguida são plantadas mudas de ervas aromáticas, medicinais ou ornamentais dependendo da utilização da espiral.

A estrutura em espiral permite que a água que caia no topo da espiral escorra por toda ela, carregando nutrientes para a parte mais baixa da mesma, evitando desperdício e perda d’água. Na parte superior da espiral são colocadas espécies de plantas que necessitam de maior luminosidade e menos nutrientes, à medida que a espiral desce são plantadas espécies que necessitam de maior quantidade de sombra e nutrientes para crescer, estando na parte mais baixa da espiral, espécies de plantas que necessitam de bastante umidade.

O formato em espiral otimiza o espaço utilizado, permitindo plantar uma grande variedade de plantas em um espaço pequeno, além disso, cria um sistema sustentável de cultivo, onde a sombra e os nutrientes necessários são fornecidos pelos próprios elementos constituintes do sistema. À medida que ocorre a evolução da espiral, pode-se observar a interação entre as espécies de plantas utilizadas e destas com os animais que constroem ninhos, alimentam-se e vivem na espiral.

Espiral de ervas
Espiral de ervas feita no campus na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) logo após o momento da construção e 3 meses depois, respectivamente.

Vasos e canteiros
Em locais onde não existe área com chão de terra para fazer a horta, pode-se utilizar pequenos vasos para o cultivo. Estes vasos podem ser de plástico, argila ou podem ser feitos a partir do reaproveitamento de recipientes como garrafas PET, latas de tinta, latões de óleo ou mel, tonéis, etc. Desta forma pode-se abordar a questão do reaproveitamento de materiais em paralelo à atividade da horta. Neste caso, é importante lavar bem o recipiente, a fim da não deixar restos de produtos químicos que podem ser prejudiciais para o desenvolvimento das plantas. Os recipientes devem conter furos na sua parte inferior e deve-se colocar pedra brita a areia, respectivamente, para fazer a drenagem do recipiente.

Horta Mandala
As hortas mandalas são sistemas alternativos de agricultura orgânica, de formato circular, para subsistência de famílias, principalmente, em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O formato circular proporciona maior aproveitamento da área cultivada, facilitando a irrigação, o manejo e o acesso, além disto, este formato é mais resistente em relação aos impactos dos ventos e luminosidade excessiva, proporcionando maior proteção às plantas da camada mais interna da horta mandala.

Conhecida também como unidade familiar de produção agrícola sustentável (UFPAS), a horta mandala pode possuir um tanque, com capacidade para até 30 mil litros de água, abastecido por cisterna ou açude. Ao redor do tanque, são cavadas valas para armazenamento de água e matéria orgânica de formato circular e são cultivados alimentos básicos como feijão, arroz, mandioca, batata, hortaliças e frutas.

Horta mandalaHorta mandala

Sistemas Agroflorestais
“Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são formas de uso e manejo dos recursos naturais nas quais espécies lenhosas (árvores, arbustos, palmeiras) são utilizadas em associação deliberada com cultivos agrícolas ou animais no mesmo terreno, de maneira simultânea ou em sequência temporal” (CATIE e OTS- Organizacíon de Estudios Tropicales, 1986 apud in Peneireiro et. al. 2003). “Os SAF’s se definem como uma série de sistemas e tecnologia de uso da terra onde se combinam árvores com cultivos agrícolas e/ou pastos em função do tempo e espaço para incrementar e otimizar a produção de forma sustentada” (Fassbender, 1987 apud in Peneireiro et. al. 2003).

O consorcio de espécies nativas espécies e alimentícias possibilita uma maior sustentabilidade do sistema, de maneira que as espécies nativas fornecem sombra e matéria orgânica necessários ao desenvolvimento das espécies alimentícias, além disto, algumas espécies nativas de leguminosas atuam como adubadeiras por fixarem nitrogênio ao solo. Cria-se um sistema integrado que necessita de pouca manutenção e gastos para a produção, além de fazer com que as espécies alimentícias não sofram tanto com o ataque de pragas e herbívoros, por estarem consorciadas com espécies nativas.

O sistema agroflorestal possui a floresta como referência para sua elaboração e manejo, sendo assim, deve ser sempre dinâmico, tal qual uma floresta.

Desta forma, a entrada e saída de espécies no tempo é uma característica fundamental para a viabilidade econômica do sistema assim como para a manutenção do seu equilíbrio ecológico.

O manejo realizado num Sistema Agroflorestal pode ser descrito como sendo basicamente a capina seletiva, a poda e a introdução de novas plantas.

Há algumas plantas que se dão bem com outras (são as plantas companheiras) e aquelas que não se dão bem. Isso deve ser considerado no consórcio.

As espécies de serviço são aquelas introduzidas ou que surgem espontaneamente no sistema de produção, que diretamente não apresentam retorno econômico, mas que cumprem papel importante de ajudar no desenvolvimento das outras espécies de interesse econômico direto.
Esses benefícios são:

-Fornecer sombra à muda.
-Fornecer um microclima (luminosidade, temperatura, umidade e ventilação) mais favorável a muitos componentes do SAF.
-Proteger o solo dos raios solares diretos.
-Proteger o solo do impacto das gotas da chuva.
-Reter barrancos.
-Controlar o mato.
-Manter ou melhorar a fertilidade do solo.
-Descompactar o solo.
-Dinamizar a vida do solo (com oferta de matéria orgânica).Dentre os benefícios gerados por sistemas agroflorestais, destacam-se a preservação da biodiversidade e do equilíbrio ecológico, a geração de produtos diferenciados em períodos distintos ao longo do ano, a manutenção da fertilidade do solo, a maior variabilidade genética e a produção de alimentos orgânicos, dentre outros.

Sistema agroflorestal de mandioca e babaçu.
Sistema agroflorestal de mandioca e babaçu.

Geralmente os SAF’s:
-Apresentam maior diversidade
-Estão próximos aos centros consumidores
-São elaborados pelos próprios agricultores ou modificados conforme suas vontades e necessidades

São características de um SAF:
-Plantio adensado de sementes;
-Utilização de espécies pertencentes a diferentes estágios sucessionais e ocupando todos os estratos;
-Plantio de todas as espécies ao mesmo tempo;
-Escolha de espécies adaptadas às condições locais;
-Manejo do sistema através da capina seletiva e poda para dinamizá-lo.
-Raízes de arquitetura diferenciada otimizando a ocupação do perfil do solo.
-Produção de matéria orgânica da árvore de serviço manejada pela poda.
-A relação entre matéria orgânica e fertilidade do solo, como dinamizadora da vida do solo.
-Enriquecimento do sistema, tanto com incremento de matéria orgânica, como com aumento de biodiversidade, que por conseqüência proporciona o equilíbrio;
-Plantas companheiras, que se ajudam mutuamente, uma criando a outra;
-Plantas que sombreiam outras.
Um sistema agroflorestal é composto por diferentes estratos, portanto deve-se utilizar espécies que componham cada um destes estratos.


Características de uma monocultura e uma agrofloresta.
Monocultura
Agrofloresta
Utiliza agrotóxicos e pesticidas
Não faz uso de agrotóxicos e pesticidas
Maior taxa de herbivoria
Menor taxa de herbivoria
Suscetível ao ataque de pragas e fungos
Menos suscetível ao ataque de pragas e fungos
Menor variabilidade genética
Maior variabilidade genética
A longo prazo degrada e contamina o solo
A longo prazo mantém o solo fértil
A longo prazo causa extinção de espécies
A longo prazo aumenta a diversidade de espécies
Realiza-se apenas uma colheita (em geral anual)
Pode-se obter benefícios a longo prazo, além da colheita anual


Estratos de um sistema agroflorestal:
Arbóreo (árvores e palmeiras)- Ex: Mangueira, jacarandá, graviola, limão, massaranduba, nicuri, piaçava, etc.

Arbustivo (arbustos) - Ex: Andú, café, aipim, milho, cambuí, etc.
Herbáceo (hortaliças, trepadeiras e rasteiras)- Ex: batata, abóbora, cebolinha, alho, maracujá, chuchu, feijão, etc.

Nossas intervenções na agrofloresta devem ser sempre no sentido de enriquecer o ambiente, aumentando a quantidade e qualidade de vida no lugar, como acontece na floresta.

Uma Agrofloresta madura produz bem, ao mesmo tempo em que conserva a biodiversidade local (plantas e animais), o solo e a água.

Para planejarmos um sistema agroflorestal devemos prever os arranjos entre as espécies no espaço e no tempo. A escolha do consórcio adequado, numa densidade adequada é imprescindível, assim como a previsão das intervenções de manejo, como poda, por exemplo. A implantação deve ser a partir dos conceitos de sucessão ecológica. Deve-se realizar a escolha das espécies de acordo com as exigências delas em luz e nutrientes, considerando retorno econômico a curto, médio e longo prazo. Além disto, requerem-se informações referentes às espécies utilizadas, como:

-Altura (estratificação).
-Diâmetro de copa.
-Época de produção (para que haja produção escalonada no tempo).
-Ambiente preferencial.
-Uso potencial de cada espécie.
Portanto, em um sistema agroflorestal encontramos:-Plantas que visam a produção para uso da família e comercialização.
-Plantas que atraem insetos polinizadores e/ou servem para criação de abelhas.
-Plantas para para alimentação de animais.
-Barreiras vivas contra fogo.
-Cerca viva.
Vejamos agora como ocorre o processo de sucessão agroflorestal:

1) Inicialmente, espécies pioneiras (hortaliças e espécies arbóreas pioneiras-feijão, milho, aipim, cana, embaúba, mamona, abóbora, dentre outras) colonizam o ambiente, por necessitarem de grande luminosidade e tolerarem poucos nutrientes no solo. Como são espécies de ciclo de vida curto, ao morrerem deve-se depositar sua biomassa sobre o solo, aumentando a fertilidade do mesmo, pelo acúmulo de matéria orgânica. Além disto, tais espécies proporcionam a sombra necessária para o estabelecimento de grupos mais tardios.

2) Após o estabelecimento das espécies pioneiras, as espécies secundárias (frutíferas em geral e algumas nativas - jacarandá, café, graviola, mangaba) podem colonizar a área, tendo em vista que toleram sombra e necessitam de luminosidade em pelo menos alguma etapa de seu ciclo vital. Tais espécies necessitam de mais nutrientes no solo, que serão proporcionados pelo acúmulo de biomassa das espécies pioneiras.

3) Com o estabelecimento das espécies secundárias, ocorre uma condição de maior sombreamento e aumento da fertilidade do solo, pelo grande aporte de matéria orgânica. Tais condições proporcionam a germinação, o desenvolvimento e estabelecimento de espécies tardias (árvores de grande porte como algumas frutíferas e madeiras de lei – mogno, jequitibá, cedro, cupuaçu, palmito) que necessitam de áreas bastante sombreadas e solo fértil para o seu estabelecimento.

4) Com o estabelecimento de espécies tardias e dos grupos anteriores, forma-se o dossel (através das copas das árvores), que cria uma condição de sombra permanente, diminuindo a luminosidade incidente sobre o solo da floresta. Pode-se realizar a formação de clareiras, a partir da poda; ou abrir novas áreas através da capina, para realizar o plantio de espécies pioneiras novamente. Desta forma, as clareiras atuam na manutenção da diversidade de um sistema agroflorestal.

Cada grupo de espécies de cada etapa da sucessão agroflorestal, prepara e cria condições para o estabelecimento de grupos mais tardios.

Como aproveitar a sucessão ecológica em sistemas agroflorestais?

-A partir da sucessão ecológica as condições ambientais (solo, luminosidade, temperatura, etc) permitem o cultivo de espécies que não poderiam ser cultivadas antes.

-Um sistema com alta diversidade e equilibrado possui maior proutividade e capacidade de se regenerar.
-As diferentes etapas da sucessão ecológica permitem o cultivo de diferentes grupos de espécies em momentos distintos.

-Se a produção respeitar as etapas da sucessão ecológica, as atividades de plantio passam a ser regenerativas, ao invés de destrutivas. O reflorestamento com técnicas agroflorestais pode promover a preservação de hábitats e espécies e assegurar o compromisso das comunidades com o reflorestamento. Encorajando a exploração limitada de produtos naturais como lenha, madeira, frutos e forragem vindos das zonas de benefício múltiplo ou zonas-tampão, que consistem de áreas agroflorestais estrategicamente localizadas podem ajudar a reduzir os efeitos de borda, bem como a dependência de recursos florestais, visto que as florestas primárias estariam rodeadas por sistemas florestados em vez de pastagens ou áreas cultivadas. As comunidades serão capazes de viver no entorno de fragmentos florestais sem impactar na biodiversidade local. Desta forma, os trampolins ecológicos aumentam a conectividade entre fragmentos florestais e podem contribuir para o fluxo gênico de muitas espécies através da dispersão de plantas e animais, comprovando que os corredores enriquecem a matriz local, aumentando a biodiversidade local e facilitam o movimento de organismos entre fragmentos florestais.

Apesar dos modelos apresentados, deve-se experimentar diferentes técnicas, principalmente modelos que sejam adequados à realidade local. Os modelos apresentados devem servir apenas como uma base teórica para fundamentar as etapas do planejamento agroecológico. A partir da observação e criatividade aliadas à experimentação poderemos elaborar novos modelos agroecológicos de plantio.
O uso de formatos circulares para as hortas facilita o manejo e é mais estável com relação a impactos como vento e luminosidade excessiva. As plantas da camada interna da horta ficam mais protegidas e cria-se um micro-clima diferenciado com maior sombreamento e umidade.

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