A ciência já descreveu 350 mil espécies de coleópteros, ordem a qual pertencem os besouros, os vaga-lumes e as joaninhas. Eles representam um terço de todas as espécies animais existentes no planeta. Possui compacta estrutura que se assemelha a uma carapaça e envolve a parte superior do inseto e um par de asas dobradas. Voando, os élitros (designação científica da tal carapaça) entreabertos e imóveis conferem certa aerodinâmica ao vôo. Entre os besouros do mundo existe uma formidável variedade de formas, tamanhos e hábitos. Mas a presença dos élitros é comum a todos, classificando-os dentro de um mesmo grupo entre os insetos: a ordem dos coleópteros. A palavra originou-se do grego koleos (estojo) e pteron (asa). Estojo refere-se aos élitros. São aproximadamente 350 mil as espécies de coleópteros já descritas pela ciência, o que corresponde a cerca de 40% das espécies de insetos ou um terço de todas as espécies animais. No Brasil, 26 mil espécies estão descritas. Não há uma ordem tão grande no reino animal. Joaninhas e vaga-lumes, por exemplo, são coleópteros. A expressividade desses números indicam que são animais muito bem-sucedidos evolutivamente. O motivo principal, segundo informam os biólogos, é exatamente a presença dos élitros, que conferem proteção e um formato compacto aos besouros, possibilitando-os explorar diferentes ambientes. Os besouros aquáticos, por exemplo, quando estão debaixo d'água guardam o ar na cavidade formada entre as asas e o corpo. E, nos besouros do deserto, os élitros protegem as cavidades respiratórias, evitando perda de água para o ambiente. O maior coleóptero do mundo de que se tem registro é a espécie amazônica Titanus giganteus, com até 20 centímetros de comprimento, e os menores são os ptiliídeos, com cerca de um quarto de milímetro. Há espécies aquáticas de besouros, chamados girinídeos, que possuem os olhos subdivididos em duas partes, uma inferior e outra superior, dando a impressão de ter quatro olhos. Quando está flutuando, a parte superior enxerga o que se passa acima da linha da água e a de baixo enxerga dentro da água.
Besouro gigante (Titanus giganteus) - o maior coleóptero do mundo de que se tem registro, com até 20 centímetros de comprimento. Pelo menos quatro bichos brasileiros disputam o título de maior inseto do planeta. Em termos de volume, o besourão, que mora na Amazônia é o campeão. Ele alcança até 22 centímetros de comprimento e pesa 70 gramas. Hoje, os grandalhões são raros. Os insetos menores, mais versáteis e que não precisam de tanta comida, dominam. Para sobreviver, às vezes, é melhor ser pequeno.
Rola-bostas (Ontophagus gazella) - também chamados de escaravelhos, são besouros da família dos escarabeídeos e têm importante papel na reciclagem de nutrientes do solo. Eles alimentam-se de fezes de animais e na época da reprodução enterram bolinhas de estrume para alimentar as larvas, que se criam sob o solo. Diz-se dos besouros que têm como estratégia reprodutiva fazer uma ou várias bolas de estrume, as quais são enterradas e sobre as quais depositam seus ovos. Existem rola-bostas em todo o mundo e alguns são mais rápidos que outros na tarefa de decompor o esterco. Assim, os africanos, adaptados para decompor o estrume de grandes animais, são os mais eficientes. Muitos países trouxeram com sucesso os besouros africanos para melhorar a fertilidade do solo, incorporando matéria orgânica, e combater certas pragas. No Brasil, a espécie africana Ontophagus gazella foi introduzida em 1989 para realizar o controle biológico da mosca-do-chifre, parasita de bovinos. Como a mosca deposita seus ovos no esterco, acreditava-se que, eliminando o mesmo rapidamente, o ciclo seria quebrado. Para se ter uma idéia, uma fêmea do besouro africano é capaz de gerar de 60 a 90 larvas por mês. Os rola-bostas brasileiros fazem uma geração por ano, de oito a dez insetos por vez. É um pequeno inseto que ajuda no combate de uma das piores pragas da criação de bovinos, a mosca do chifre. A mosca causa irritação por se alimentar de sangue, e para isso pica os animais, causando dor, estresse e danificando o couro dos bichos, sendo assim o animal perde muito peso e em alguns casos a capacidade reprodutora. O pequeno besouro se adaptou bem ao cerrado e ao clima quente da região, que acelera o processo de multiplicação dos besouros. Eles se alimentam dos ovos da mosca dos chifres que são depositados nas fezes frescas dos bovinos. O controle da praga é eficiente, apenas 5% dos ovos conseguem se desenvolver. Além de controlar a população da mosca do chifre, ele suga todo material orgânico e leva pra dentro da terra ajudando na adubação do solo. Desta forma ele contribui para a melhoria da qualidade do pasto que garante o ganho de peso dos bovinos. Vários produtores já adotaram o controle biológico para combater a mosca dos chifres. Têm a característica de separar uma porção de estrume da massa, rolar a uma determinada distância do ponto de origem e depois enterrar ou cobrir com grama. Constroem dois tipos de bolas: as bolas-alimento para os adultos, e as bolas-ninho, estas moldadas mais cuidadosamente e enterradas em profundidades maiores. Ele contribui para a aeração do solo ao cavar os buracos para enterrar as bolas de fezes. Isso melhora a fertilidade do terreno, pela incorporação de matéria orgânica e reciclagem de nitrogênio e fósforo, e diminui a infestação das pastagens por larvas de helmintos gastrintestinais. Os inseticidas existentes no mercado são capazes de eliminá-los. Por isso, deve-se evitar colocá-los nas fezes de animais que receberam inseticidas nos últimos 40 dias.
Hedypathes betulinus
Serra pau (Hedypathes betulinus e Oncideres impluviata) - dentro da família dos cerambicídeos, a maioria das espécies alimenta-se, na fase larval, de madeira em diferentes estágios de decomposição. Algumas larvas comem madeira recém-abatida e portanto a mãe precisa cortar um galho para em seguida nele introduzir os ovos. Daí o nome popular serra-pau. O trabalho é feito meticulosamente usando as mandíbulas. No sul do Brasil, larvas da espécie conhecida como corintiano (Hedypathes betulinus) são pragas agrícolas da cultura do mate, e fêmeas adultas de Oncideres impluviata cortam galhos da acácia-negra, árvore cultivada comercialmente para extração de tanino. Os membros da família dos cerambicídeos, que conta com cerca de 30 mil espécies no mundo e 4 mil no Brasil, são facilmente reconhecíveis pelas antenas bastante alongadas, em geral maiores que o corpo. Na fase adulta, esses besouros têm vida curta, suficiente apenas para copular e realizar a postura. Em compensação, o ciclo larval de algumas espécies chega a durar entre dois e três anos. São coleópteros que medem cerca de 30 mm de comprimento com coloração parda. As fêmeas e machos serram os ramos de arbustos e árvores e após a queda destes, realizam a postura de seus ovos sob a casca. As larvas ao emergirem se alimentam do lenho do ramo caído. O ciclo de desenvolvimento destes insetos é longo, podendo atingir 370 dias conforme a espécie. Encontramos muitas vezes em nossos pomares ramos de laranjeiras e abacateiros caídos devido ao ataque destes besouros. Prejudicam plantios de eucaliptos, mogno, árvores frutíferas e outras plantas. Os ramos caídos devem ser removidos e queimados para evitar a emergência de novos insetos.
Hedypathes betulinus - o adulto é um besouro que mede, aproximadamente, 25 mm de comprimento. O corpo apresenta coloração preta, sendo recoberto por pelos brancos. As antenas são longas e finas, com manchas alternadas claras e escuras. As larvas são desprovidas de pernas e de coloração branca. As fêmeas realizam as posturas principalmente no tronco das erveiras, próximo ao solo. Entretanto, também podem fazê-la nas raízes expostas, brotos ladrões e galhos da região próxima do ponto onde ocorreu a última poda. Após, aproximadamente, 12 dias, eclode a larva, que inicia a sua alimentação, construindo uma galeria subcortical. Posteriormente, atinge o lenho sendo que as galerias podem dirigir-se para a raiz da planta ou serem ascendentes. Durante o processo de broqueamento, a larva vai compactando atrás de si, a serragem, a qual lhe serve de proteção e quando expelida para fora da planta, denuncia a presença da praga. A fase de larva tem uma duração aproximada de 280 dias. Quando está próxima a se transformar em pupa, a larva constrói uma galeria mais ampla, a câmara pupal, onde permanece por cerca de 20 dias, até a emergência do adulto. Em condições de campo, o ciclo de ovo a adulto pode superar 17 meses. Os adultos vivem muito tempo e estão presentes em abundância entre os meses de setembro e maio. Eles roem a casca dos ramos e, ocasionalmente, causam um anelamento, fazendo com que estes murchem e sequem.
Oncideres impluviata - corpo cilindrico e coloração castanho-avermelhada, nos machos as antenas ultrapassam o comprimento do corpo. Apresentam manchas amareladas em toda superfície. As larvas são ápodas (não possuem pernas) e esbranquiçadas. Os adultos alimentam-se da casca dos ramos mais novos, onde o tecido é mais tenro. Para a postura, as fêmeas serram os galhos, as larvas desenvolvem-se e alimentam-se no lenho dos ramos cortados. Geralmente, o ataque do serrador é mais intenso em plantas com mais de dois anos de idade.
Bicudos - em 1983, uma nova praga chegou às plantações de algodão do Brasil, muito provavelmente de avião vinda dos EUA: o bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis), da família dos curculionídeos. Voraz, esse besouro fura os botões florais para retirar o pólen e pôr os ovos. Na época em que se constatou a presença do bicudo, pensou-se que, com o custo do combate ao besouro, a cultura não seria mais viável economicamente. Porém, logo a cotonicultura migraria do Sudeste e Nordeste para o Centro-Oeste, em busca de terrenos mais planos para facilitar a mecanização que estava em curso. No cerrado, o bicudo não encontrou boas condições para se proliferar. Exigente em umidade, não foi capaz de desenvolver muitas gerações durante o ano pois não se adaptou bem à rigorosa estação seca da região. Hoje, o bicudo existe nos algodoais, mas em populações que não inspiram grandes cuidados. Os membros da família dos curculionídeos são reconhecíveis pela presença de antenas dobráveis e um rostro (bico) de tamanho variado. Trata-se da maior família de coleópteros, com 50 mil espécies descritas no mundo e 5 mil no Brasil. Há espécies que atacam plantas cultivadas e outras importantes agentes polinizadoras. A oviposição ocorre preferencialmente em botões florais, flores e maçãs do algodão. Para a postura, a fêmea coloca apenas um ovo por orifício, feito com seu rostro (peça alongada que se projeta da parte anterior da cabeça). A cavidade é posteriormente fechada por uma secreção gelatinosa. Os ovos são brilhantes e medem cerca de 0,8 mm de comprimento por 0,5 mm de largura. Cada fêmea põe cerca de 6 ovos por dia, totalizando uma média de 100 a 300 ovos por ciclo. O período de incubação é de 3 a 4 dias. As larvas são brancas de cabeça marrom-clara, sem pernas e com 5 mm a 10 mm de comprimento. Alimentam-se de todo o interior do botão, que cai em uma semana. Passam à fase de pupa após 7 a 12 dias. As pupas são formadas em câmaras construídas nas próprias estruturas atacadas. Possuem coloração branca e, após 3 a 5 dias, transformam-se em adultos. Adulto, o besouro atinge 7 mm de comprimento apresentando coloração cinza ou castanha, com o rostro bastante alongado, correspondendo à metade do comprimento do corpo. Apresenta dois espinhos no fêmur do primeiro par de pernas. Em geral as fêmeas são maiores e mais vorazes que os machos. Apresentam longevidade de 20 a 40 dias. Terminado o ciclo da cultura, parte da população migra para abrigos naturais e aí permanece em diapausa, por períodos variáveis de 150 a 180 dias até um novo ciclo da cultura. No Brasil, devido à condição tropical, ocorre a quiescência, onde o inseto não paralisa totalmente suas atividades no inverno.
Fonte: Vivaterra