Ostra Japonesa (Crassostrea gigas)
Características: A Ostra Japonesa (Crassostrea gigas) é a principal espécie de ostra cultivada no litoral brasileiro. O corpo mole, protegido externamente por uma concha, que apresenta duas valvas: a valva superior ou direita, que é plana; e a valva inferior ou esquerda, que é levemente côncava ou abaulada. A junção entre as duas valvas é feita com auxílio do músculo adutor e também através de um ligamento situado na região posterior. Esta concha é constituída principalmente por carbonato de cálcio, que é retirado diretamente da água do mar com auxílio de células especializadas localizadas no manto. O manto é a camada de tecido que recobre as partes moles de ambos os lados do corpo, com exceção do músculo adutor. Além de conter as células responsáveis pela formação da concha, o manto também apresenta funções sensoriais. O corpo, que é a parte mole do organismo, é constituído além do manto, pelas brânquias, palpos labiais, coração (pericárdio), massa visceral (órgãos do aparelho digestivo, reprodutor e excretor) e pelo músculo adutor. As brânquias apresentam a função de realizar as trocas gasosas (respiração) e a captura do alimento. Devido à grande superfície branquial que se encontra constantemente úmida, as ostras podem resistir a longos períodos fora da água. É um molusco valioso, importante para os pescadores, porque sua carne é considerada iguaria.
Habitat: no Brasil, como é uma espécie cultivada, a ostra é encontrada em ambientes estuarinos, ao longo de baías, sempre longe da poluição.
Ocorrência: litoral do sudeste e sul do Brasil. É uma espécie exótica com origem no Japão.
Hábitos: estuarinos.
Alimentação: são organismos filtrantes, alimentando-se de microalgas e matéria orgânica particulada. Os valores de filtração de cada ostra geralmente ficam em torno de 5 a 25 litros/hora.
Reprodução: são organismos dióicos, ou seja, apresentam o sexo separado. Porém, externamente, não é possível diferenciar o macho da fêmea, pois ambos apresentam a gônada (órgão sexual masculino ou feminino) com a mesma coloração. A diferenciação sexual somente é possível através de raspagem da gônada e análise do material em microscópio, pois os ovócitos apresentam o formato arredondado e os espermatozóides se mostram como uma massa compacta. O desenvolvimento gonadal (maturação) é influenciado por fatores externos como luminosidade, salinidade e, principalmente, pela temperatura e disponibilidade de alimento. Durante a desova, o esperma é lançado pelo canal exalante (lado direito das ostras), de uma forma contínua. Este processo é semelhante a uma "fumaça de cigarro", pois o músculo adutor permanece relaxado, facilitando com isso a desova. A fêmea, por sua vez, apresenta um comportamento distinto, pois desova lançando os ovócitos contra o canal inalante (lado esquerdo das ostras) em jorros abruptos. Sendo uma espécie exótica, sua reprodução e desenvolvimento larval devem ser realizados em ambientes controlados (laboratório). A fecundação é externa, ou seja, o contato entre o espermatozóide e o ovócito ocorre na água. O óvulo fecundado sofre os processos de clivagem após 2 horas, evoluindo para os estágios de mórula, blástula e gástrula (6 horas). Após 12 a 16 horas, a larva já apresenta capacidade natatória através de uma coroa de cílios, sendo então denominada de trocófora. A larva continua seu desenvolvimento e após 24 horas surge uma larva transparente, medindo entre 61 e 72 micrômetros (0.061 a 0,072 milímetros) em forma de "D", possuindo uma coroa ciliada denominada vélum, sendo denominada larva veliger de charneira reta ou larva "D". Com o tempo o formato "D" desaparece (6 dias) ocorrendo a formação do umbo, que se completa totalmente ao redor do décimo quarto dia. Neste momento, a larva apresenta uma forma arredondada e um vélum bastante desenvolvido, sendo denominada de " véliger umbonada ", e apresentando o tamanho aproximado de 230 a 240 micrômetros (0,230 a 0,240 milímetros). A larva continua a se desenvolver, e por volta do décimo sétimo dia surge uma "mancha-ocular" e um pé, sendo a larva denominada "pedivéliger", com tamanho médio de 280 micrômetros. Quando a larva apresenta o pé completamente desenvolvido e passa a medir aproximadamente 300 micrômetros, ela abandona a coluna d'água e dirige-se ao fundo em busca de um substrato adequado para completar a sua metamorfose. Neste estágio, as ostras no ambiente natural procuram rochas ou raízes de mangue para se fixarem. Em laboratório a fixação das ostras ocorre em pó de concha moída, pratos plásticos ou em conchas de moluscos. A duração deste ciclo depende do substrato disponível e da temperatura da água do mar. A uma temperatura de 25º C este ciclo dura em torno de 21 dias.
Predadores naturais: pequenos caranguejos da família Porcellanidae e, principalmente, os platelmintos dos gêneros Stylocus e Pseudostylochus , conhecidos popularmente como planária ou lesma do mar. Os gastrópodes Thais (Stramonita) haemastoma e Cymatium parthenopeum parthenopeum , conhecidos popularmente como buzo e caramujo peludo, respectivamente, também causam mortalidades expressivas nas ostras juvenis e adultas. O siri azul Callinectes sapidus preda as ostras quebrando as conchas com auxílio de suas quelas (garras). As estrelas-do-mar atacam as ostras abrindo as valvas com auxílio de seus braços. Alguns peixes da família Scianidea (Pogonias chromis ), o baiacú ( Spheroides testudineus ) e os sargos ( Arcosargus probatocephalus ) apresentam o hábito de se alimentar de mexilhões, podendo também atacar as ostras. Organismos competidores como cracas, ascídeas e esponjas, apresentam os mesmos hábitos alimentares que as ostras. Além disso, competem por espaço e oxigênio. As cracas são os principais competidores das ostras, apresentando picos de incrustações mais pronunciados durante a primavera e verão. Fixam-se nas lanternas de cultivo e principalmente nas conchas, distribuindo-se em densas aglomerações, o que prejudica o crescimento das ostras e o aspecto do produto para comercialização. Os parasitas são organismos que utilizam o corpo das ostras para sobreviverem, podendo algumas vezes até provocar a morte. Destaca-se a espécie de poliqueta Polidora wesbsteri que se fixa externamente na ostra, realizando uma perfuração nas valvas. Quando atinge a porção interna da concha a ostra começa a produzir uma nova camada nacarada para se proteger deste ataque, formando "bolhas de lodo" (detalhe na figura) no interior da concha, prejudicando sua aparência interna e depreciando o seu valor comercial. Muitas vezes esta camada protetora não é suficiente e a perfuração atinge o músculo das ostras causando a sua mortalidade. Outro organismo perfurador das conchas de ostras é o mitilídeo Litophaga patagonica. Trematodas do gênero Bucephalus e as bactérias patogênicas do gênero Nocardia foram observados nas gônadas das ostras, interferindo na reprodução destes organismos. Além disso, a presença das bactérias foi associada ao fenômeno de mortalidade massiva de verão.
Ameaças: poluição e roubo nas unidades de produção.
Fonte: Vivaterra