Ayahuasca | O Vinho da Floresta

Ayahuasca | O Vinho da Floresta

Ayahuasca | O Vinho da FlorestaOrigens - Um dos mistérios que acompanham o uso da Ayahuasca é o de como estas duas plantas (Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis) que compõem o chá, se encontraram num universo que possui, praticamente, infinitas possibilidades de combinações vegetais.

Outro mistério que instiga a mente dos pesquisadores é a data e o local onde se obtiveram as primeiras quantidades do chá. Para Milanez (1993) a união das duas plantas foi realizada por Salomão e remonta ao início da civilização humana. Para Guerra (1976) os incas usavam o chá.

Na determinação da primeira aparição do chá, alguns artefatos arqueológicos – vasos de cerâmica e estátuas – dão indícios que o chá era usado na Amazônia Equatoriana provavelmente no período de 1500-2000 a.C. (NARANJO, 1979, 1986 apud METZNER, 2002).

Deve-se a Richard Spruce as primeiras anotações científicas sobre as plantas psicoativas da América do Sul. Este inglês se aventurou entre 1849-1864 viajando da Amazônia brasileira aos Andes. Em 1852 teve contato com uma tribo Tukano, no Rio Negro (Brasil), e deles pôde conhecer uma bebida chamada caapi. Os índios a utilizavam para induzir profecias e relações divinas. Em 1859 encontrou, junto com os Záparos (nos Andes peruanos), a mesma espécie encontrada no Brasil, só que com nome diferente. Neste novo local o nome tinha origem incaica: Ayahuasca - vide dos mortos (SCHULTES, 1968).

Os povos indígenas são pontos de referência quanto ao uso deste chá. Os xamãs utilizavam o caapi como um meio de comunicação entre o mundo espiritual e o material e servia ainda como fator de coesão do grupo. As tribos Kaxinauá, Sharanawa, Marubo e Ashaninka são alguns exemplos das que utilizam o chá e o nome dado ao cipó e à bebida por cada uma delas varia muito. Citando alguns poucos: nixipae, dunuan isun, oni kamarampi, etc (LUZ, 2002).

O costume indígena de beber a Ayahuasca incorporou-se nos rituais dos curandeiros ou vegetalistas. Este contato cultural aconteceu quando os caucheiros (21) encontraram populações ribeirinhas da região amazônica já condicionadas por culturas estranhas às suas. Os países envolvidos neste movimento foram: Brasil, Peru e Bolívia. E a época, final do século XIX e início do século XX, coincide com o primeiro ciclo da borracha (LUNA, 2002).

Além da ayahuasca, os curandeiros podem usar outras plantas como o tabaco (Nicotiana tabacum), outras espécies do gênero Banisteriopsis (B. inebrians, B. quitensis e B. rusbyana), banhos de ervas, chás, etc. Os curandeiros crêem que ao beberem a ayahuasca podem entrar em contato com uma realidade diferente da normal, proporcionando comunicações com espíritos (bons ou ruins). Para eles, a causa das doenças pode ser espiritual e por meio de exorcismos conseguem curar os enfermos (De RIOS, 1972).

Para chegar aos centros urbanos da atualidade, a ayahuasca passou antes, também, pelas mãos dos seringueiros. Devido à grande migração ocorrida no primeiro ciclo da borracha, vinda do nordeste, os seringueiros tiveram contato com os índios e nativos amazônicos. Estas etnias se “cruzaram” formando famílias mistas. Segundo Franco e Conceição (1999) “é quase certo que a apresentação da ayahuasca aos seringueiros deu-se nesse contexto de proximidade e contato com as populações indígenas”.

Na preparação do chá os dois elementos principais são o cipó (Banisteriopsis caapi) e a folha (Psychotria viridis) fervidos na água. Em algumas tradições outros elementos podem ser usados na decocção. A descrição dos dois elementos da ayahuasca é feito abaixo:
I – O cipó:
Este elemento relaciona-se como o aspecto da força contida no chá. Primeiramente descrito por Richard Spruce, em sua expedição pela região amazônica da América do Sul, no ano de 1852. O primeiro nome científico que esta liana recebeu de Spruce foi Banisteria caapi. Porém, em 1931, após novos estudos taxonômicos esta espécie mudou de gênero passando a chamar-se Banisteriopsis caapi (Spr. Ex Griseb) Morton (Schultes, 1968). A literatura atual refere-se ao cipó utilizando apenas o gênero e a espécie.
Existe uma descrição botânica sobre o cipó no próprio livro de Spruce (1970)
Descrição (22): Liana inchada nas juntas. Folhas opostas, 21,3 x 11 (cm), ovais acuminadas, apiculadas – agudas, finas, lisas na parte superior, pilosas na parte inferior, panículas axilares ou umbelas. Pedicelos pilosos, brácteas somente na base, cálice com 5 pétalas partidas, segmentos ligulados, glandular ou somente com glândulas rudimentares. Possui 5 pétalas longas e afinadas. Lâminas pentagonais, fimbriadas e clavadas. Estames no número de 10, desiguais, anteras arredondadas. Com 3 estiletes, subulados; estigmas captados. Cápsulas muricato-cristadas, prolongadas em um lado numa semi-obovada asa branco-esverdeada.

Pode-se obter algumas informações adicionais sobre o cipó em Gates (1970): pertence à família Malpighiaceae. Sua origem não é conhecida, mas povos indígenas da Amazônia brasileira, Equador, Bolívia, Peru e Colômbia cultivam esta espécie; além das encontradas naturalmente. Este gênero está distribuído por quase toda a América do Sul e possui espécies que podem ser encontradas no cerrado e Rio de Janeiro. Possuem formas que variam de cipó, trepadeira, arbustos à pequenas árvores.

II – A folha
A luz (23) encontrada no chá é proveniente da folha do arbusto Psychotria viridis ou cartaginensis. São raros os trabalhos científicos apresentando descrições botânicas sobre estas duas espécies. Mais difícil é encontrar estes dados sobre a planta da família das Rubiáceas, da qual se extraem as folhas.

Os autores Rivier e Lindgreen (1972) citam em seu artigo, uma descrição feita por Del Castillo (1962) (24), em sua tese, e eles se referem à descrição como sendo uma das espécies do gênero Psychotria, utilizadas no chá:

Descrição: a chacrona é um arbusto de 3 a 4 metros de altura, de raiz napiforme, caule lenhoso, cilíndrico, de 10 ou mais centímetros de diâmetro. O córtex é de cor verde, ligeiramente escuro com manchas esbranquiçadas e distribuídas como pequenas áreas de aspecto geográfico do modo que o conjunto recorda a pele de uma serpente. As folhas são de forma lanceolada, alargadas, inteiras, de pecíolo muito curto. São folhas peninervadas, com mais de 10 nervuras secundárias. Por sua disposição no caule são opostas e cruzadas. As folhas medem de 13 e 15 cm de largura (incluindo o pecíolo) por 4,5cm. O pecíolo mede 0,5cm de comprimento. A inflorescência é composta, definida. O fruto é pequeno, de 4,5 x 5 mm, epicarpo de cor roxa como a cereja quando está madura; é uma drupa, encerra duas sementes que nos recordam o café. As sementes são duas e se abrem igual ao café, convexas em sua parte dorsal e aplanadas em sua parte ventral por onde se unem; unidas dão forma de um ovóide, de 4 x 4,5 mm.

III – O casamento alquímico
Da união do cipó (B. caapi) e da folha (P. viridis) surge o chá Ayahuasca. Os diversos grupos que utilizam esta bebida possuem suas formas diferentes de prepará-lo, podendo ser usados tempo de cozimento e quantidade de material diferentemente em cada ocasião.

Após os primeiros estudos sobre o tema em pauta, que abordavam os aspectos botânicos e antropológicos, surgiram os pesquisadores da química buscando decifrar os elementos constituintes do chá e as chaves de sua atuação no organismo humano.

Os pioneiros da ciência, que presenciaram a ação do chá em índios e xamãs e ouviram o próprio testemunho destes sobre o que sentiam ao bebê-lo, descreveram os propósitos que levavam os habitantes da floresta a utilizarem a ayahuasca em seus rituais. Talvez estes efeitos do chá no homem despertaram a curiosidade dos fitoquímicos e bioquímicos. De Rios (1972) oferece um resumo dos efeitos causados pela ayahuasca e buscados pelos nativos amazônicos:

1. Ayahuasca e o sobrenatural
a. Para magia e ritual religioso
Para receber orientação divina e comunicação com os espíritos animadores das plantas ou receber um espírito protetor especial.
b. Adivinhação
Adivinhar se estranhos estão chegando; descobrir onde estão seus inimigos e quais são seus planos; descobrir se suas mulheres são infiéis; ver o futuro claramente.
c. Feitiçaria
Causar doenças em outros por meios psíquicos; prevenção contra maldade alheia.
2. Ayahuasca e o tratamento de doença
Descobrir a causa da doença ou curá-la.
3. Ayahuasca, prazer e interação social

Dar prazer ou propiciar estados afrodisíacos, aumento da atividade sexual, alcançar êxtase ou estados intoxicados; facilitar a interação social entre os homens.

Várias informações sobre os elementos químicos do chá já foram descobertas. O cipó possui como constituintes principais os derivados beta-carbolínicos da harmina, tetrahidroarmina e harmalina. O elemento principal das folhas é a N,N-dimetriltriptamina ou DMT. Estes alcalóides são encontrados na ayahuasca e mais alguns traços de outros menos relevantes (BRITO, 1992).

A atuação do chá no SNC (Sistema Nervoso Central) se dá por um intrincado processo: O efeito psicoativo produzido pela Ayahuasca em seus usuários está relacionado com a DMT, substância de estrutura molecular semelhante à da Serotonina (25), presente na Psychotria viridis e que se for administrado isoladamente por via oral é inativada pelas enzimas monoaminoxidases (MAO) existentes no corpo humano. A Ayahuasca, sendo assim, só é ativa por ser uma mistura das duas plantas, na qual os componentes beta-carbolínicos no Banisteriopsis caapi possuem um forte efeito inibidor das MAO, permitindo que a DMT permaneça ativa no organismo humano (LIMA, 2004).

À Ayahuasca ainda são atribuídos outros efeitos psíquicos e também visões (26). Para Luna (1983) os vegetais deste chá são “plantas professoras”. Para Castaneda (1997), segundo seu mestre Dom Juan, plantas como a datura e o peiote eram aliados. Acredita-se numa ‘vida consciente’ destas plantas de poder.

Uma das características de muita beleza que a Ayahuasca pode proporcionar aos grupos que a utilizam é um encontro com a essência cultural do grupo e uma visão real da natureza e da vida. Outro ponto importante de se ressaltar é que parte das experiências vividas por quem bebe o chá não podem ser descritas pois estão além das palavras (LUZ, 2002).

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