Psicologia Ambiental

Psicologia Ambiental

Psicologia AmbientalA Psicologia Ambiental estuda a pessoa em seu contexto, tendo como tema central as inter-relações entre a pessoa e o meio ambiente físico e social. Os primeiros livros desse ramo da psicologia são relativamente recentes, e foram publicados nos Estados Unidos, na década de 70. As dimensões sociais e culturais estão sempre presentes na definição dos ambientes, mediando a percepção, a avaliação e as atitudes do indivíduo frente ao ambiente. Cada pessoa percebe, avalia e tem atitudes individuais em relação ao seu ambiente físico e social. Por outro lado, os efeitos desse ambiente físico particular sobre as condutas humanas também são estudados. Então, estamos estudando uma reciprocidade entre pessoa e ambiente. Essa inter-relação é dinâmica, tanto nos ambientes naturais quanto nos construídos. Ela é dinâmica porque os indivíduos agem sobre o ambiente (por exemplo, construindo-o), mas esse ambiente, por seu turno, modifica e influencia as condutas humanas. Logo, não estamos estudando nem o indivíduo per se, nem o ambiente per se.

É fato bastante conhecido que determinadas especificidades ambientais tornam possíveis algumas condutas, enquanto inviabilizam outras. A Psicologia Ambiental se preocupa em caracterizar as incidências específicas de certos micro e macro-ambientes sobre o indivíduo. Ou seja, como, por exemplo, a casa de uma pessoa é capaz de influenciar a sua percepção, avaliação, atitudes e satisfazer suas necessidades. Mas também se interessa em coisas muito mais amplas, como uma cidade, por exemplo. Como ela influencia o comportamento e o cotidiano do indivíduo? De que forma o indivíduo reage às condições constringentes do ambiente, como, por exemplo, o estresse? Pois o estresse é uma palavra-chave na relação que o indivíduo tem com essa entidade ambiental, a grande cidade. Os problemas das grandes cidades (transporte, moradia, alta densidade demográfica, ruído, poluição) têm uma influência sobre o indivíduo e essa influência depende de como ele percebe e avalia os diferentes aspectos estressantes decorrentes do fato de viver nessa cidade.

Ao passar a viver numa grande cidade por necessidade de estudo ou emprego, temos uma certa expectativa em relação a ela. Ao sairmos do interior para viver em Natal, por exemplo, ou sair de Natal para morar em São Paulo, teremos uma idéia de como vai ser a vida ali, os problemas de transporte que iremos enfrentar, ou a insegurança que existe ali. Esse ambiente vai ter uma influência sobre o nosso comportamento. Será preciso decidir, por exemplo, não sair mais à noite por medo (ainda que, talvez, não precisássemos ter medo), o que causará um certo estresse, resultante da interação entre o indivíduo e o seu contexto físico. Não é o contexto físico isoladamente que causa o estresse. Não é o telefone celular, por exemplo, que provoca o estresse, mas, sim, a relação que a pessoa tem com ele. Então, essas são as coisas que interessam à Psicologia Ambiental e é isto que faz com que ela seja cada vez mais importante para resolver problemas.

A Psicologia Ambiental trata também de certas temáticas bem específicas, que podem nos ajudar a entender por que se fala em Psicologia Ambiental e não só em "enxergar" o ambiente, como fazem outros ramos da Psicologia. Por exemplo, uma temática que é bem importante em Psicologia Ambiental é o espaço físico. Este é um termo que tem sido amplamente esquecido pela Psicologia, seja na Psicologia Geral, Social, do Desenvolvimento ou outras. Não se falava de espaço, mas é óbvio que nos comportamos diferentemente dependendo do espaço em que estamos. Se estivermos num espaço restringido, pequeno, atuaremos de maneira diferente de nosso modo de agir em um espaço amplo. A avaliação e percepção que temos desse espaço também vão influenciar na nossa maneira de atuar; interagimos diferentemente dependendo do local. Então, o espaço é o primeiro conceito importante.

Como o que se estuda em Psicologia Ambiental são fenômenos bem complexos, não só se usam métodos e técnicas bem conhecidas da Psicologia, particularmente da Psicologia Social, como também são criadas metodologias próprias da Psicologia Ambiental. O exemplo mais conhecido é certamente o método de Barker, que descreve o funcionamento de um sistema, não somente de um ponto de vista físico, mas considerando também as pessoas que ali estão. Segundo esse método, espaço físico não representa nada se não tem gente dentro. Mas deve haver um certo número de pessoas para que o sistema possa funcionar adequadamente, cada um organizadamente exercendo a sua função; com gente demais ou sem ninguém não funciona. Então, o método descreve espaço físico de uma forma totalmente dependente de seu modo de ocupação.

Outro conceito também importante e específico da Psicologia Ambiental é a dimensão temporal, que se entende ao mesmo tempo como projeção no futuro e referência ao passado, à história. O tempo também é um conceito que tem sido claramente negligenciado em Psicologia. A Psicanálise talvez seja o único ponto de vista a falar de tempo no sentido de história pessoal. Fala-se um pouco, é verdade, na Psicologia do Desenvolvimento, mas a relação do indivíduo com o tempo é o que mais importa para a Psicologia Ambiental. O indivíduo tem uma noção de tempo que está relacionada com a duração de sua vida, que é muito dependente do seu ciclo de vida. Em Psicologia Ambiental a noção de história é importante. Não se deve esquecer que é através da história residencial que o indivíduo constrói uma identidade residencial, que vai influenciar a sua percepção e avaliação da residência atual.

Essa questão de tempo (e de considerar o tempo) também faz parte de outro tema específico da Psicologia Ambiental, que é o problema da adoção de comportamentos pró-ambientais. Ou seja, fazer com que o indivíduo respeite o meio ambiente e que adote comportamentos tais como a restrição do uso de água, a triagem de lixo, entre outros. Muitas vezes, nessas situações o indivíduo tenta atuar de maneira individualista e não pensa na comunidade. Ademais, os problemas que podem surgir quando o indivíduo não atua de modo a preservar o ambiente trazem conseqüências não para a nossa geração, mas para a de nossos filhos ou netos. Esta questão ambiental também é abordada por outras áreas da Psicologia, como a Psicologia Social, porém essa abordagem centraliza o foco sobre as mudanças de comportamento, o que implica em efeitos de curto prazo. Não é muito difícil modificar o comportamento dos indivíduos, fazer com que eles adotem comportamentos pró-ambientais, que joguem o lixo no lixo. Mas, observe-os três meses depois, ou seis meses depois. Aqueles comportamentos terão voltado a ser o que eram antes; eles não duram muito tempo. Então, este é também um problema temporal e a Psicologia Ambiental tem se preocupado com essa dimensão.

Os psicólogos ambientais são, em grande parte, provenientes da Psicologia Social, mas alguns também vêm da Psicologia Geral, da Psicologia do Desenvolvimento e também da Psicopatologia, que também se preocupa cada vez mais com a relação entre saúde e ambiente. Não é por acaso que certos doentes se encontram em certos lugares e não em outros, da mesma forma que algumas doenças se encontram em determinados lugares e não em outros. O descontentamento do indivíduo com o seu ambiente pode facilitar a emergência de certas doenças, sejam mentais ou físicas.

A Psicologia Ambiental é muitas vezes multidisciplinar, pois a complexidade dos problemas ambientais costuma exigir uma abordagem a partir de diferentes pontos de vista, necessitando da colaboração de outras disciplinas, principalmente da Geografia Humana, já que esta tem como ponto de partida o espaço. Também pelo fato de que a Geografia Humana leva muito em conta o tempo. Outras áreas conexas são o Urbanismo e a Arquitetura. Esta última, vista de modo simplificado, trata do micro-ambiente da residência, que é uma das coisas mais importantes para o indivíduo (seu apartamento, seu lugar, seu espaço de referência). É nesse espaço que o indivíduo irá se desenvolver, criar uma família, ter filhos, tornando-o bastante importante para sua vida. A Psicologia Ambiental também dialoga com o Urbanismo, que trata de um macro-ambiente construído, que é a cidade. Os urbanistas são responsáveis por seu planejamento, o que justifica uma parceria com os psicólogos ambientais no sentido de evitar desconfortos aos cidadãos.

Essa abordagem em termos de micro e macro-ambientes revela uma preocupação em trabalhar um problema a partir de abordagens de níveis diferentes. Quando queremos saber qual o efeito da grande cidade sobre o indivíduo, temos de ver primeiro como se dá sua satisfação residencial com sua moradia, seja apartamento ou casa. Em seguida, conhecer sua satisfação com a vizinhança, depois com o bairro e, aí sim, com a cidade. São relações que o cidadão tem com sua residência, sua vizinhança, seu bairro e sua cidade, que vão ser analisadas em diferentes etapas, segundo múltiplas abordagens.

O ambiente de trabalho também é de interesse dos psicólogos ambientais. Altas demandas e exigências do dia a dia de trabalho, pouca margem de controle e autonomia, necessidade de tomada de decisão frente aos contratempos, excesso de responsabilidade, necessidades de treinamento, problemas de planejamento, além do ambiente físico no trabalho são alguns dos aspectos geralmente considerados responsáveis por vários problemas entre os empregados. Assim, quanto mais adequado for o ambiente de trabalho em seus aspectos físico e social, mais eficiente será a produtividade.

O ambiente também deve ser muito considerado no que se refere à educação, onde o espaço é um elemento básico e constitutivo da aprendizagem. Diversos teóricos estudaram o processo de desenvolvimento e atribuíram importância à interação de fatores cognitivos-afetivos, relacionais e sociais para o pleno desenvolvimento do indivíduo. A interação desses fatores ocorre em dimensões físicas e temporais que exercem papéis fundamentais para o desenvolvimento de todas as potencialidades das pessoas que nele convivem.

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