Movimentos Ambientais no Brasil

Movimentos Ambientais no Brasil

Movimentos Ambientais no BrasilNo Brasil, no ano de 1986, com o reingresso da democracia, além da preparação política para a nova Constituição houve grandes turbulências na classe política. No mundo, todos viam com assombro o desastre nuclear em Chernobyl, na Ucrânia. Foi nesse cenário de ebulição que uma ONG recém-formada buscava incluir um conceito novo no cotidiano dos brasileiros: a proteção da Mata Atlântica. Na época, a SOS Mata Atlântica fez uma escolha peculiar: ao invés de ações espetaculares, promoveu uma campanha nos jornais do país. Nascia então a frase “Estão tirando o verde da nossa Terra”, criada pela agência de publicidade DPZ, que destacava o verde da bandeira nacional sendo devastado e acabou por se tornar um símbolo da luta da ONGs em prol do meio ambiente.

Mais de duas décadas e meia depois que a SOS Mata Atlântica chamou atenção para a questão ambiental o número de ONGs verdes aumentou consideravelmente. Mesmo assim, não é simples traçar um mapa brasileiro por causa da desatualização dos dados. Segundo a última medição do IBGE (feita em 2005), existiam no país 2.562 fundações privadas e associações sem fins lucrativos relacionadas ao meio ambiente e à proteção animal. Para se ter uma noção da discrepância entre os dados, o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento calcula que o país tenha 607 entidades que trabalham com a questão ambiental, com domínio da região Sudeste.  

Até o final da década de 1980, o próprio movimento ambientalista, como um todo, também não gozava de alto grau de conhecimento do público. A situação só foi mudar com a redemocratização. Angela Alonso, Valeriano Costa e Débora Maciel, no artigo “ Identidade e estratégia na formação do movimento ambientalista brasileiro ”, publicado na revista Novos Estudos do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) analisaram os acontecimentos políticos ocorridos entre 1980 e 1990 e encontraram três momentos-chave de fortalecimento do movimento ambiental. Tais momentos foram denominados como estruturas de oportunidades política. Segundo os autores, depois da largada promovida pela redemocratização, que incentivou a organização de grupos de protestos na sociedade, a Assembleia Constituinte e a Conferência Rio 92 foram os passos seguintes para cristalizar uma identidade do movimento ambiental no país. “A Constituinte compeliu os ativistas a escolherem entre diferentes estratégias de mobilização disponíveis e os levou a convergirem para uma coalizão de associações, em vez de um partido, como forma prioritária de apresentar suas reivindicações na esfera pública. Já a Rio 92 impingiu à coalizão de associações a negociação de um único frame, cujo significado pudesse ser compartilhado pelo movimento como um todo”, escreveram.

Débora Maciel, pesquisadora da área de conflitos ambientais do Cebrap e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica a mudança no comportamento. “As ONGs ganharam centralidade na rede ambientalista, desde os anos 1990, com as conferências mundiais da ONU. Representaram o surgimento histórico de um perfil mais profissionalizado de ativismo e mais convencional de mobilização política. Ou seja, o protesto, surgido nos anos 1970, sustentado por pequenos grupos, com escassos recursos e formas de mobilização mais agressivas e menos institucionalizadas, d eu lugar a organizações burocratizadas, à ascensão de ativistas especializados em temas específicos, à preferência pela negociação com autoridades e à prestação de serviços em 'gestão ambiental'”, disse. 

Mudanças na atuação
Atualmente o profissionalismo domina as ONGs verdes brasileiras, em detrimento das ações espetaculares. “Mesmo o Greenpeace e o Sea Shepherd – fundado em 1977, nos EUA, por ativistas dele originários – não escaparam à tendência mais geral de profissionalização do ativismo ambientalista. Pois, ainda que dedicados a formas não convencionais de ação política, de forte impacto cultural e público, podemos dizer que 'profissionalizaram o protesto'”, explica Débora. Além do uso da expertise técnica e científica como meio de convencimento público de suas causas, ela acredita que essas organizações, altamente burocratizadas, se especializaram no uso profissional do marketing político e da mídia para a disseminação pública de suas bandeiras.

Às vésperas de uma nova conferência do meio ambiente, o mapa brasileiro do movimento ambiental brasileiro é bem diverso daquele de 20 anos atrás. “Sua atuação tem se dado em diversas áreas, notadamente conservação de florestas, educação para a sustentabilidade, governança da água, mudanças climáticas, sustentabilidade urbana, inclusão social e meio ambiente – apoio a organizações de catadores, gênero e meio ambiente, consumo e meio ambiente, emergias renováveis e meio ambiente, proteção de biodiversidade, proteção do ambiente marinho”, comenta Pedro Roberto Jacobi, professor da Faculdade de Educação e do Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP). Ele ressalta que a tendência atual é o foco na região amazônica, florestas tropicais, Cerrado, Mata Atlântica, florestas na Indonésia, Índia e países do sudeste asiático. Nas áreas urbanas a preocupação se volta para as mudanças climáticas. 

A atuação se dá através de alianças – com atuação local e regional. “Muitas campanhas são através de coalizões contestando políticas públicas, propostas legislativas como [o novo] Código Florestal, e temas de interesse global como as mudanças climáticas que mobilizam coalizões de ONGs e articulações regionais”, explica o professor da USP. O próprio Fórum Brasileiro de ONGs foi criado, em 1990, para articular para a conferência realizada no Rio de Janeiro, bem como outros importantes órgãos, como a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), criada em 1991, e a Rede de ONGs Mata Atlântica, em 1992. 

Mesmo que ostentem o não governamental no nome, as ONGs estão sim próximas à política, dando consultorias. No âmbito parlamentar a atuação acontece principalmente por meio da Frente Ambiental, formada por 237 deputados e 21 senadores. As ONGs e os políticos compõem 13 grupos de trabalhos que envolvem questões verdes, como prevenção de desastres naturais e energias renováveis. Cada grupo sempre é composto por uma ONG verde e uma ou mais instituição de defesa do meio ambiente. 

Por não terem verba pública ou não visarem lucros, as ONGs ambientais traçam caminhos alternativos de captação de recursos. Algumas são associadas a órgãos internacionais, como o Greenpeace e o World Wildlife Fund (WWF), enquanto outras estabelecem parcerias com empresas públicas e privadas e arrecadam em fundos nacionais, como editais.

Por Romulo Orlandini 
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