Ciência que estuda a distribuição,
quantificação, qualidade química, formas de uso e a interação com os
elementos físicos e biológicos (rochas, solos, fauna e flora) da água na
superfície terrestre. Em seus estudos a Hidrologia necessita de aportes
de outros ramos das Geociências, como Geologia, Meteorologia,
Climatologia, Geografia Humana, Engenharias, entre outras. Num sentido
amplo poderíamos dizer que a Hidrologia é a ciência que estuda o Ciclo
hidrológico e seus vários braços.
A
Hidrologia é uma ciência relativamente jovem e praticamente teve seu
maior impulso de desenvolvimento no século XX, devido à necessidade das
grandes obras hidráulicas.
Os insucessos que vinham acontecendo anteriormente com as obras nas
calhas dos rios, resultantes principalmente de estimativas insuficientes
de vazões de enchentes,
traziam conseqüências desastrosas que se agravam com a ampliação do
porte das obras e o crescimento das populações ribeirinhas, bem como,
com as repercussões do colapso operacional desses empreendimentos sobre a
economia das nações.
Entretanto,
as primeiras notícias sobre a preocupação dos homens com os fenômenos
hidrológicos remontam ao Antigo Egito, à Mesopotâmia, à Índia e à China,
há alguns milhares de anos antes de Cristo. Aproximadamente no ano 3000
a.C., os egípcios construíram no rio Nilo, a mais ou menos 30
quilômetros ao sul da atual cidade do Cairo, a barragem de
Sadd-el-Kafara,
em alvenaria de pedra, com cerca de 100 metros de extensão e dez metros
de altura, presumivelmente para abastecimento de água potável,
finalidade rara entre as obras da época, cuja quase totalidade consistia
em canais e endicamentos, com o objetivo de promover a irrigação das
terras pelo aproveitamento das enchentes dos rios. Essas obras de
engenharia hidráulica eram realizadas em bases totalmente empíricas; as
que tinham um bom desempenho eram copiadas, as que sofriam desastres
eram alteradas naquilo que se julgasse ser a causa do erro.
A idéia predominante, na época, entre os gregos, incluindo-se Platão, Aristóteles (384 - 322 a.C.) e Tales de Mileto,
era a de que as fontes e os mananciais existentes nos continentes,
inclusive no alto de serras e cordilheiras, eram abastecidos por
reservatórios subterrâneos inesgotáveis, existentes a grandes
profundidades.
Sabe-se que Aristóteles interpretou os processos de evaporação e
condensação atmosférica como intimamente relacionados à precipitação e
admitiu que parte da chuva contribuísse para os rios, superficialmente, e
que outra se infiltrasse e pudesse chegar às nascentes. Essa
contribuição, segundo ele, seria, todavia, muito pequena e a maior
responsabilidade pela surgência de água nos continentes seria o
resultado da condensação da umidade atmosférica em profundas cavernas
subterrâneas, uma dupla analogia com as cavernas calcárias do litoral do
Mediterrâneo, com as quais os gregos estavam muito familiarizados.
Foi Marcus Vitruvius Pollio,
engenheiro e arquiteto romano que viveu na época de Cristo, quem
admitiu que a chuva que caía nas altas montanhas, infiltrava-se e
ressurgia no sopé das elevações, formando os rios. Foi a primeira teoria
de infiltração que rompeu os tabus dos conceitos antigos consolidados
na época.
Esses preconceitos e essas teorias dominaram o pensamento humano até fins do século XVII, apresentando como únicas honrosas exceções, Leonardo da Vinci e Bernard Palissy.
Da Vinci (1542-1519) explicou a salinidade dos mares pela ação das
águas continentais que se infiltravam, dissolviam e carreavam os sais do
subsolo para os oceanos, onde esses sais permaneciam. Palissy concebeu
uma teoria da infiltração como hoje é aceita, pela qual as águas
infiltradas iam formar as fontes e nascentes, todas as águas tendo como
origem as precipitações. Essas idéias revolucionárias somente foram
confirmadas e consagradas pelos estudos de Pierre Perrault (1608-1680), Edmé Mariotte (1620-1684) e Edmond Halley
(1656-1742), franceses os dois primeiros, sendo o último o célebre
astrônomo inglês. Foram eles os primeiros que puderam demonstrar,
quantitativamente, as idéias de Palissy e Da Vinci, criando, dessa
forma, uma hidrologia conceitualmente científica, libertando-a do
subjetivismo a que, até então, estava subordinada.
Perrault mediu, durante três anos, as chuvas na bacia do rio Sena
até Burgundy e, estimando suas vazões, pôde concluir que as chuvas
produziam um deflúvio seis vezes maior do que o que transitava pelo rio
no mesmo tempo. Além disso, Perrault estudou o fenômeno da evaporação e
constatou que, através dela, imensos volumes de água podiam se perder
para a atmosfera. Mariotte mediu as vazões do rio Sena em Paris
por meio de flutuadores, confirmando os resultados de Perrault, e
observou que as vazões das nascentes aumentavam por ocasião das chuvas.
Halley mediu a evaporação no Mediterrâneo
e verificou, por métodos mais ou menos grosseiros, que o volume
evaporado do mar Mediterrâneo compensava a soma dos deflúvios de todos
os rios que nele deságuam, justificando a permanência de seu nível de
água.
Esses três pesquisadores podem ser considerados os fundadores da Hidrologia, mas não se devem esquecer figuras notáveis, como Galileu Galilei e Torricelli, ou, depois deles, Daniel Bernoulli, Henri Pitot, Antoine de Chézy, Giovanni Venturi, Henry Darcy, Jules Dupuit, Henry Bazin, Gunter Thiem, Julius Weissbach,
T. Bergeron e A. Schoklitsch, os quais colaboraram, teórica ou
praticamente, para o desenvolvimento da Hidrologia e da Hidráulica.
Na segunda metade do século XIX
e no século XX, os Estados Unidos trouxeram uma notável contribuição
para o desenvolvimento da ciência hidrológica, como conseqüência ou
necessidade de seu desenvolvimento econômico e tecnológico. Podem-se
citar nomes como os de Robert Manning, Allen Hazen, Adolph F. Meyer, Oscar E. Meinzer, Le Roy K. Sherman, Hans Albert Einstein, W. E. Fuller, R. E. Horton, R. K. Linsley, F. F. Snyder, Ven Te Chow, entre outros.
Entre as organizações e entidades européias que se destacaram no
desenvolvimento da Hidráulica e de Hidrologia pode-se mencionar o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa; o Institute of Hidraulic Engineering (IHE), em Delft, Holanda; o Wallingford Experimental Station (WES) em Wallingford, Inglaterra; o Laboratoire National d’Hydraulique (LNH) em Chatou, França; o Institut de Mécanique de Grenoble (IMG); a Societé Grénobloise d’Amenagéments Hydrauliques (SGAH) em Grenoble, França; dentre outros.
Nos Estados Unidos pode-se citar o Bureau of Reclamation do Ministério do Interior, a Colorado State University e o Corps of Engineers do USA Army, dentre outros.
No Brasil, diversas organizações públicas e privadas se destacaram,
principalmente no século XX e contribuíram para o desenvolvimento dos
estudos, projetos e pesquisas nas áreas relacionadas com a Hidráulica, em geral, e com a Hidrologia, em particular, podendo-se citar: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES); Associação Brasileira de Recursos Hídricos
(ABRH); Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS); Associação
Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID); Departamento Nacional de
Obras de Saneamento (DNOS); Departamento Nacional de Obras contra as
Secas (DNOCS); Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
(DNAEE); Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM); ELETROBRÁS; e as Companhias de Energia Elétrica (FURNAS, Companhia Hidrelétrica do São Francisco, Eletrosul, Eletronorte, Itaipu Binacional, CESP, COPPE – UFRJ, bem como, os principais laboratórios de hidráulica do país (HIDROESB - Laboratório Saturnino de Brito, o primeiro da América Latina, INPH, IPH-UFRGS, IPH-UFPR, Laboratórios de Hidráulica da USP e de FURNAS).
O Brasil desde Maurício de Nassau possuiu ou produziu alguns dos hidrólogos e hidráulicos mais respeitados no Mundo, tais como Saturnino de Brito, Saturnino de Brito Filho, Hildebrando Góes, Lucas Nogueira Garcez, Marco Siciliano, Jorge Paes Rios, André Balança , Pedro Parigot de Sousa, José Martiniano de Azevedo Neto, Teófilo Benedito Ottoni etc.