Ilustração mostra como seria pássaro primitivo do gênero 'Sapeornis' (Foto: Divulgação/Universidade do Kansas) |
Uma pesquisa realizada por cientistas chineses analisaram fósseis de aves primitivas com mais de
100 milhões de anos e identificaram que algumas delas possuíam quatro
asas ao invés de duas, com penas nos membros traseiros, que
provavelmente eram úteis para voar.
O processo evolutivo, dizem os cientistas, deve ter feito com que os
pares de asas traseiras dessem lugar a patas, que foram tendo penas
menores com o tempo. Uma análise detalhada do tema foi publicada na
renomada revista "Science" nesta semana.
A pesquisa afirma que 11 fósseis recém-descritos de pássaros
primitivos, de gêneros como o "Sapeornis", apresentam evidências da
presença de grandes penas nos membros traseiros, que integravam um
sistema de quatro asas.
Análises anteriores haviam descoberto animais similares a dinossauros
com penas nas extremidades traseiras, mas havia poucos indícios de que
se tratassem de asas e que fossem úteis para voo, segundo a agência de
notícias AFP.
Outros dinossauros com aspecto de pássaros, como o Microraptor, já
haviam sido identificados há anos por cientistas como seres com grandes
penas nas patas traseiras. Estudos sugerem que eles usavam as patas para
se deslocar no ar, seja planando entre as árvores, aterrisando ou em
voos curtos.
A descoberta de estruturas semelhantes em aves primitivas, no entanto, é
nova, segundo os cientistas. As "asas traseiras" foram descobertas em
fósseis que datam de 100 a 150 milhões de anos, que estavam guardados no
Museu de História Natural Shandong Tianyu, na China.
Os 11 animais fossilizados são de cinco espécies de aves primitivas
relativamente robustas, maiores do que um corvo, segundo Xing Xu,
professor da Academia Chinesa de Ciências. Para ele, o "Sapeornis" é um
espécime-chave, que possuía um leque de penas em cada calcanhar -
algumas eram grandes e chegavam a atingir 5 centímetros de comprimento.
"Acreditamos que estavam relacionadas com o voo", diz Xing Xu. Ele
avalia a descoberta como "emocionante", porque não restam muitos
exemplares fósseis de pássaros antigos, com seus esqueletos delicados,
em condições de serem estudados.
Manobrar no ar
Segundo o estudo, as asas traseiras podem ter ajudado as criaturas a manobrar no ar, enquanto batiam as asas dianteiras para voar ou as esticavam para planar.
Segundo o estudo, as asas traseiras podem ter ajudado as criaturas a manobrar no ar, enquanto batiam as asas dianteiras para voar ou as esticavam para planar.
A disposição das penas e as asas traseiras mais rígidas sugerem que
eram "aerodinâmicas em sua função, proporcionando elevação ou melhorando
a capacidade de manobra e, portanto, desempenhando um papel no voo",
afirma a pesquisa.
Os cientistas buscam agora mais detalhes sobre a possível cor das penas
das asas traseiras, e criaram modelos para mostrar exatamente como
teriam sido utilizadas no voo, explicou Xu.
Ilustração mostra como seria o Microraptor, dinossauro com aspecto de pássaro que também possuía grandes penas nas patas traseiras (Foto: Divulgação/Denis Finnin/Museu Americano de História Natural) |
Dúvidas
Outros pesquisadores põem em dúvida a função das penas das patas nas aves primitivas, e destacam que elas podem ter sido usadas com outros fins, como para atrair parceiras.
Outros pesquisadores põem em dúvida a função das penas das patas nas aves primitivas, e destacam que elas podem ter sido usadas com outros fins, como para atrair parceiras.
"Ninguém pensa que estes animais agitavam as patas como faziam com as
asas", afirmou Kevin Padian, da Universidade da Califórnia em Berkeley,
nos EUA, segundo a agência AFP.
Padian não participou da pesquisa, mas foi um dos especialistas que a
revisaram antes de sua publicação. "Alguns afirmam que as penas das
patas teriam incrementado a impulsão, mas não há evidências disso. Para
elevar a impulsão, as penas deveriam ter se organizado para formar um
perfil aerodinâmico competente e plano e ninguém demonstrou que seja o
caso", disse.
"Por outro lado, é indiscutível que estas penas teriam criado arrasto",
acrescentou Padian. Ele, no entanto, elogiou a pesquisa, qualificando-a
de "grande estudo", por demonstrar como as penas das patas mudaram com o
tempo, entre os dinossauros com aspecto de pássaro e os pássaros
primitivos.
Atualmente há alguns pássaros que apresentam pernas com penas, mas
tendem a ser aves exóticas criadas por sua raridade, não aves que
evoluíram neste sentido.
Fonte: Globo Natureza