Apicultura é o ramo da agricultura que estuda as abelhas produtoras de
mel e as técnicas para explorá-las convenientemente em benefício do
homem.
Acredita-se que o mel tenha sido um dos muitos produtos que o homem pré-histórico coletava para sua alimentação. Durante muito tempo o mel foi um dos poucos alimentos açucarados naturais à disposição da humanidade.
História
Na Europa, África e Ásia há relatos e desenhos que permitem inferir que as abelhas já eram exploradas pelo homem há mais de cinqüenta mil anos. Possivelmente foram os egípcios os primeiros apicultores de que se tem notícia. O advento da apicultura moderna, todavia, ocorreu em 1851, quando o americano Lorenzo Lorraine Langstroth inventou a colméia racional, hoje chamada colméia Langstroth ou colméia americana.
Segundo o zoólogo brasileiro Paulo Nogueira Neto, as abelhas da espécie Apis mellifera foram introduzidas no Brasil pelo padre Antônio Carneiro Aureliano, em março de 1839, mandadas vir do Porto, Portugal.
Sexo, castas, reprodução
Ao contrário de outros animais domésticos, onde se distinguem apenas machos e fêmeas, nas abelhas observam-se três tipos de indivíduos: rainhas, operárias e zangões ou machos. Tanto as rainhas como as operárias são fêmeas; as primeiras costumam ser estéreis, enquanto as rainhas constituem a casta fértil, cuja função única é pôr ovos. Em épocas de muito néctar e pólen, uma rainha de abelha africana chega a pôr cinco mil ovos diários; todavia, quando há poucas flores, a postura se reduz a cem ou 200 ovos por dia.
A casta mais numerosa é constituída pelas operárias, que são fêmeas pequenas, com desenvolvimento incompleto do aparelho reprodutor, responsáveis por todos os trabalhos executados na colméia. Os zangões, após alguns dias de vida, voam ao redor da colméia durante algumas horas por dia, aguardando a oportunidade de executarem sua única função, que é fecundar a rainha.
Para entender a formação dessas três castas, convém seguir o que acontece numa colméia que está sem rainha, mas possui uma célula real ou realeira de onde está prestes a eclodir nova rainha. Nas primeiras dez horas após o nascimento da rainha, as operárias pouca atenção lhe dão. Daí em diante, porém, passam a ocupar-se dela, alimentando-a e lambendo-a constantemente. Pelo quarto ou quinto dia, as operárias começam a ficar inquietas e, se a rainha não sair da colméia, empurram-na para fora, obrigando-a a sair para o vôo nupcial. A rainha pode voar até 13km de distância à procura de zangões e estes podem voar até quatro quilômetros à procura da rainha.
Normalmente, a rainha acasala-se com 5 a 12 zangões do próprio apiário ou de suas redondezas, dentro de um raio de 200 a 500m. Se, porém, no primeiro vôo ela não ficar completamente inseminada, poderá fazer mais dois ou três vôos nupciais. Durante um período de 10 a 24 horas depois que a rainha volta à colméia, os espermatozóides que foram ejaculados no oviduto da rainha, em número de setenta a oitenta milhões, começam a migrar para a espermateca, onde cinco a dez milhões podem ficar armazenados por vários anos, havendo casos relatados de até cinco anos. As rainhas, em clima brasileiro, vivem uma média de dois anos.
Quatro a dez dias depois do vôo nupcial, a rainha começa a pôr ovos de dois tipos: fecundados e não fecundados. Os ovos não fecundados permanecem em alvéolos grandes e os fecundados, em alvéolos pequenos.
Acredita-se que, num alvéolo pequeno, o abdome da rainha entre comprimido, o que a obriga a apertar a espermateca, que esguicha de dez a vinte espermatozóides, os quais penetram no óvulo que for passando pelo oviduto. Um desses espermatozóides irá fundir-se com o núcleo do óvulo e este, fecundado, dará origem a uma fêmea, que será operária ou rainha, conforme a alimentação que vier a receber.
Se, no entanto, a rainha puser ovos em alvéolos grandes, não comprimirá a espermateca, não fecundará os ovos, e esses vão desenvolver-se em machos, ou seja, zangões. Por muito tempo (de três meses a cinco anos, porém, em média, durante nove meses), a rainha continua a receber alimento das operárias e a pôr ovos __ muitos, quando recebe bastante comida, poucos, quando recebe pouca.
As operárias constantemente lambem a rainha, para sugar uma certa substância, produzida pelas glândulas mandibulares da rainha, chamada substância de rainha. Pouco a pouco essa substância é distribuída por todo o enxame, cabendo apenas um pouquinho para cada abelha. A substância inibe os ovários da operária e promove uma estabilidade social.
Quando a rainha fica velha, começa a secretar pouca substância de rainha. A falta dessa substância vai atuar sobre todas as operárias, fazendo-as produzir mais geléia real, que, dada em grandes quantidades a uma ou mais larvinhas, transformam-nas em rainhas virgens. Todas as larvinhas recebem geléia real desde a eclosão até o terceiro dia, porém, daí em diante, passam a receber mel e pólen e se tornam operárias; algumas, entretanto, continuam a comer geléia real até o sexto dia de vida larvar e se transformam em rainhas.
As abelhas são extremamente suscetíveis ao efeito da consangüinidade, que determina acentuada queda de produção. Por isso, o apicultor não deve criar rainhas a partir de uma só colônia, e sim, selecionar, no mínimo, suas vinte melhores colônias e retirar, de dez delas, as larvas que irão transformar-se em rainhas. As dez outras colônias selecionadas devem ser providas de quadros com células grandes, onde a rainha botará ovos não fecundados, que darão zangões. Isso é muito importante porque cada colônia produz rainhas virgens, em média, duas vezes por ano. Se não houver um grande número de zangões selecionados para fecundá-las, o apicultor perderá todo o trabalho de seleção.
Localização e instalação de um apiário
A escolha do local apropriado para montar um apiário está intimamente ligada à flora apícola. Não é conveniente instalar um apiário em cafezais, laranjais, plantações de eucalipto ou de cana-de-açúcar, pois essas plantas não favorecem a produção de mel ou só o fazem em épocas muito restritas do ano. Além disso, deve-se escolher um local em cujas proximidades exista água, de maneira que as abelhas não tenham de voar mais de 500m para coletar água. Caso isso não seja possível, convém instalar dentro do apiário uma fonte de água. Especialmente no sul do país, o apiário deve ser instalado em lugar que possua proteção contra o vento sulino, que é muito frio. Os direitos dos vizinhos devem ser resguardados. Por isso nunca se deve colocar apiários a menos de cem metros de residências ou de lugares onde são guardados animais. As colméias tanto podem ser colocadas sob a proteção de ranchos, como em lugares abertos. No Brasil, poucos apicultores profissionais se utilizam de ranchos para a instalação de seus apiários.
As entradas das colméias devem ficar viradas para lugares diferentes no apiário. Por exemplo, cada grupo de quatro colméias deve ficar com a boca voltada para um dos lados de um quadrado hipotético. É conveniente pintar as entradas das colméias com cores diferentes, escolhidas entre as que a abelha enxerga, quais sejam: azul, azul-esverdeado, verde, amarelo, branco e preto.
O manejo das abelhas. É importante que o apicultor novato monte seu apiário com poucas colméias (de vinte a trinta) e vá aumentando esse número anualmente, até chegar a 400, que é o número de colméias com que um apicultor jovem e forte pode lidar, dedicando-se em tempo integral à apicultura, sem necessidade de empregados fixos.
São necessários alguns apetrechos para lidar com as abelhas: véu-de-apicultor, fole ou fumigador, espátula ou formão de apicultor, luvas, escovas de pêlos macios e vestuário adequado. As principais tarefas são: examinar a postura, evitar a enxameação, fazer a alimentação artificial, evitar pilhagem, coletar enxames e proceder à extração do mel.
A extração do mel se faz em cinco etapas, a primeira das quais é a retirada dos favos da colméia. Para isso há vários métodos, que devem ser adequados ao tipo de apicultura em causa: apicultura intensiva, profissional ou amadora. A segunda operação é a desoperculação, ou seja, a retirada dos opérculos dos favos cheios de mel. Isso é feito com máquinas especiais na apicultura intensiva, mas também se consegue usando-se facas quentes ou garfos, na apicultura amadora. Em terceiro lugar, vem a centrifugação, que exige a utilização de uma centrífuga, cuja capacidade de quadros varia de dois a mais de 500, conforme o tipo de apicultura.
A quarta operação é a separação dos opérculos contidos no mel. Isso se faz, geralmente, por gravidade, utilizando-se a própria centrífuga usada na extração de mel dos favos. Os opérculos utilizados para produzir cera dão, geralmente, uma cera branca, muito bonita. A quinta operação é a filtração do mel, que leva às vezes pedacinhos de cera, partículas de pólen e outras impurezas.
Outro aspecto importante na lida com as abelhas é a produção de rainhas e de geléia real (a técnica, em ambos os casos, é a mesma). Os passos para a produção de rainhas são os seguintes: seleção das colméias, das quais surgirão as larvinhas; preparo de cúpulas reais de cera, no laboratório; preparo da colméia de "recria", onde vão ser introduzidas as realeiras enxertadas; a própria operação de enxertia, e o preparo de núcleos de fecundação, onde vão ser introduzidas as realeiras, ou o uso de uma estufa onde se dará o nascimento das rainhas, dentro de frascos de vinte a quarenta centímetros cúbicos de capacidade, como os de penicilina. Se o objetivo é obter geléia real em lugar de rainhas, então jogam-se fora as larvas após 72 horas e coleta-se a geléia.
Chama-se enxertia a operação de retirada de larvinhas recém-eclodidas dos alvéolos de operárias e sua colocação em cúpulas reais artificiais, que devem ter, no fundo, uma gotinha de geléia real. Usa-se uma agulha especial para executar esse serviço, que é bastante delicado. As larvas devem ser colhidas com cuidado, para evitar o rompimento de sua delicada pele. Uma vez retiradas dos alvéolos, as larvas são colocadas sobre a geléia real. Essa operação de enxertia deve ser feita em uma sala com temperatura não inferior a 20 C.
Logo após a enxertia, a barra contendo 15 a 25 dessas realeiras artificiais é colocada numa colméia, onde as larvinhas serão alimentadas por seis dias. Após o décimo dia no laboratório retiram-se essas realeiras dos quadros e enfiam-se cinco milímetros de suas pontas em pequenos vidrinhos que contêm, no fundo, um pouco de serragem grossa e uma bolinha de cândi para a rainha alimentar-se assim que nascer. Depois a rainha recém-nascida será transferida para uma realeira, que será usada para a inseminação artificial ou para qualquer outro fim.
Doenças e inimigos das abelhas
As principais doenças das abelhas, no Brasil, são: (1) cria-pútrida-européia, causada pelo Bacillus pluton e, secundariamente, pelos Bacterium euridice, Bacillus alvei e Streptococus fecalis; (2) nosemose, causada pela Nosema apis, que vive na parede estomacal das abelhas e interfere na digestão e fisiologia; (3) cria ensacada, causada por vírus, razoavelmente bem estudado nos Estados Unidos; (4) mortandade-de-outono, causada por vírus, especialmente na região centro do estado de São Paulo; (5) septicemia, causada por bactérias infecciosas, usualmente transmitidas de uma rainha a outra, através do aparelho de inseminação artificial; é uma das principais razões pela qual convém desinfetar o aparelho de inseminação ao passar para outra rainha.
Os principais inimigos das abelhas são a irara ou papa-mel (Tayra barbara), as formigas (sara-sara, correição, quem-quem), as traças (Galleria mellonella), os percevejos (Apiomerus), as mosquinhas (Phorideos), algumas aves, alguns lagartos. Os agentes tóxicos que afetam as abelhas são os inseticidas, os fungicidas e os herbicidas. Os inseticidas de alta periculosidade para as abelhas são: Aldrin, BHC, DDT e os inseticidas arseniacais. Os fungicidas em geral são pouco tóxicos às abelhas, o que torna um tanto perigosa a aplicação de compostos mercuriais às flores.