Plantas Alucinógenas
A tais plantas se dá o nome de alucinógenas. São espécies, como o
cânhamo ou maconha, o peiote e o estramônio, capazes de induzir quem as
usa a estados de grande excitação cerebral, marcados pelo distanciamento
da realidade aparente e uma apreensão mais vívida dos sons, formas e
cores.
A influência de substâncias contidas em determinadas plantas sobre a atividade cerebral do homem, ou seja, o efeito psicotrópico produzido pela ingestão desses vegetais, pode provocar anomalias da percepção ou alucinações.
Classificação. Do ponto de vista sistemático, as plantas alucinógenas distribuem-se em dois grandes grupos: ou são fungos superiores, ascomicetes ou basidiomicetes, ou plantas do grupo das dicotiledôneas, pertencentes a famílias muito pouco relacionadas na seriação sistemática.
O quadro motivado pelo uso desses materiais alucinógenos caracteriza-se por intensa excitação cerebral, acompanhada de visões coloridas, sonhos agradáveis, sensações inusitadas e êxtases profundos que induzem as pessoas a sentirem-se distanciadas da realidade aparente. A impressão de se viver em outros planos é ampliada por noções radicalmente diferentes do espaço e do tempo.
Há um grupo de plantas alucinógenas que se relaciona à pretensa faculdade de previsão e ganha enorme importância em comunidades primitivas que buscam, através de visões mágicas, desvendar o futuro. São as chamadas plantas divinatórias, usadas muitas vezes em rituais marcados por fortes sentimentos de religiosidade.
Entre as plantas superiores, ou dicotiledôneas, com propriedades alucinógenas encontram-se moráceas como o cânhamo; malpighiáceas como o caapi ou auasca; cactáceas como o peiote; e solanáceas como o meimendro e o estramônio. O cânhamo (Cannabis sativa), popularmente conhecido como maconha, designação de origem africana, é uma planta importante como produtora de fibras que há milênios também tem sido usada por seus efeitos medicinais, como sedativo, e por suas propriedades alucinógenas.
Origem e efeitos do haxixe. Com o nome de haxixe (do árabe hashish, que significa "erva seca"), são usadas várias preparações derivadas do cânhamo, que podem ser fumadas, bebidas ou mascadas. É curioso que a palavra "assassino" derive do árabe hashishin, que significa "comedores de cânhamo". A origem desse nome liga-se a uma antiga seita muçulmana, a dos ismaelianos ou assassinos, que existiu na Síria, no tempo das cruzadas, no século XII.
Difundido no Brasil como maconha, diamba ou marijuana, e cultivado sobretudo no Nordeste, o cânhamo é de atividade muito variável, como variável é a resposta do ser humano ao seu uso. As extremidades floridas das plantas femininas, sobretudo se cultivadas em regiões quentes e secas, têm em geral efeito mais potente.
O quadro mais comum da intoxicação pelo cânhamo compreende: profundo relaxamento muscular; ausência de preocupações; alterações perceptuais (visuais, auditivas, tácteis) e sentimento de despersonalização; impressão de retardamento do tempo e de alongamento do espaço; idéias fugazes e incoerentes; perda da capacidade de atenção e da memória imediata; euforia, sonolência e, por vezes, aumento do desejo sexual.
Usos religiosos. Cipós de várias malpighiáceas dos gêneros Banisteriopsis e Tetrapterys, conhecidos por nomes como caapi, auasca ou iagé, são usados em cerimônias de cunho religioso, por suas propriedades alucinógenas, por tribos indígenas da Amazônia e seitas de inspiração sincrética como a do Santo Daime. A ação de tais cipós, traduzindo-se por um estado de grande excitação, produz efeitos semelhantes ao da intoxicação por haxixe, se bem que mais acentuados. Só ou, como em geral acontece, associado a outras plantas, o caapi é tomado sob a forma de infusão ou decocto.
A cactácea conhecida como peiote (Lophophora williamsii), nativa de pequena área da fronteira entre os Estados Unidos e o México, é uma das mais curiosas e mais bem estudadas plantas alucinógenas. Ainda nos dias atuais é objeto de um culto por tribos mexicanas e americanas, não obstante a pressão das autoridades dos dois países.
O caule do cacto é cortado em fatias transversais que, uma vez secas, constituem os "botões de mescal". Cada participante do culto masca certo número de botões, secos ou mesmo frescos, amolecendo-os e triturando-os antes de os engolir aos pedaços. Atinge-se em seguida um estado de intensa excitação ou transe. Doses demasiado fortes resultam às vezes em alucinações de caráter desagradável.
Uma longa série de alcalóides foi isolada do peiote; entre eles a mescalina, apontada como responsável pelas alucinações visuais, a lofoforina, a analamina e a pelotina. As propriedades do peiote, com seus efeitos sobre os fenômenos da percepção, já atraíram a atenção de psicólogos, escritores e filósofos. Aldous Huxley foi um dos que mais se interessaram pelo assunto, submetendo-se inclusive a experiências pessoais com esse cacto.
Sabe-se também da existência de propriedades alucinógenas em plantas como o estramônio ou trombeta (Datura stramonium) e o meimendro (Hyoscyamus niger). Várias espécies de Datura são empregadas ainda hoje por tribos da bacia amazônica. O meimendro tem uma longa história através dos séculos. Foi usado por feiticeiros, envenenadores, mágicos e profetas como capaz de produzir um estado propício à experimentação das visões. Já os fungos ou cogumelos alucinógenos tornaram-se de uso corrente sobretudo no México, onde se associaram desde cedo, como o peiote, a práticas religiosas.