Jardim e Jardinagem
As origens do ser humano estão ligadas ao meio natural, que, embora lhe proporcionasse abrigo e alimentação, se mostrava inóspito. Quando adquiriram certo grau de civilização, os homens quiseram manter sua relação ancestral com a natureza e acabaram por adaptá-la, de acordo com gostos e épocas, às próprias necessidades. Por isso, pode-se dizer que o jardim é uma tentativa de resgatar o paraíso perdido.
Jardim é uma extensão de terra plantada com espécies vegetais apreciáveis pela folhagem ou floração. Podem associar-se às plantas elementos como lagos, fontes, estátuas, pérgulas, escadas, grutas, estufas, vasos, pavilhões, pavimentos, balaustradas etc. Chama-se jardinagem a arte e a técnica de cultivar jardins.
Segundo sua destinação, distinguem-se os jardins científicos ou botânicos, destinados à pesquisa e ao ensino, e os de lazer, ou jardins propriamente ditos, tanto particulares como públicos, dedicados ao passeio e descanso, nos quais prima a ordenação e a estética. O jardim de lazer de grandes dimensões, em geral chamado parque, é quase sempre público.
Evolução histórica
Os jardins mais antigos foram criados no Egito e na Mesopotâmia. Os egípcios destacaram-se pelo uso de flores de loto e todo tipo de árvores frutíferas, e por incluírem geralmente pequenos lagos artificiais em seus jardins. Na Babilônia, foram célebres os jardins suspensos, dispostos em terraços, incluídos entre as sete maravilhas do mundo antigo. Entre os persas, tornou-se famoso o jardim de Ciro, junto a seu palácio, que incluía uma área de caça.
O mundo grego não deu muita atenção ao jardim de lazer, mais preocupado com os jardins de caráter religioso junto aos templos. Os jardins helenísticos, assim como os da época imperial em Roma, destacaram-se pelo luxo. Os romanos possuíam áreas verdes tanto nas casas urbanas quanto nas vilas nos arredores da cidade. Em geral criavam, por meio de afrescos, a ilusão de uma área ajardinada no interior das casas.
Foram também célebres os jardins do Extremo Oriente
Na China, por influência do taoísmo, buscou-se a combinação harmoniosa de elementos naturais, como água e pedras, além de pontes e pavilhões. O jardim japonês, tanto em colina (tsukiyama) como em terreno plano (hiraniwa), era sempre cuidadosamente elaborado e buscava a integração do homem com a natureza.
O jardim islâmico buscava reproduzir a concepção de um pequeno paraíso e dava grande importância ao elemento aquático, devido a sua escassez na paisagem árabe. Contava com inúmeras plantas aromáticas e em geral dispunha de complexas redes de transporte de água, com aquedutos e canais, e de distribuição, por meio de tanques e fontes. Caracterizava-se por estar organizado em torno de um eixo. Os principais exemplos são os jardins espanhóis da Alhambra, em Granada, e os de Medina Azahara, perto de Córdoba, hoje desaparecidos.
O jardim medieval prototípico identificava-se geralmente com o dos claustros dos mosteiros, áreas de meditação ao redor de uma fonte central. No auge da arte gótica, com o progresso social, surgiu o jardim particular nos palácios dos nobres e monarcas. Em todos eles, eram freqüentes árvores frutíferas e plantas medicinais.
Nos jardins do Renascimento, exemplificados pelo jardim italiano, o que se apresenta é uma composição de impacto, que lança mão de todos os recursos, desde o emprego generalizado de elementos construídos de alto requinte, à criação de grandes perspectivas ricas de elementos cênicos e de plantios exuberantes, diversificados pela crescente introdução de espécies vegetais oriundas de países exóticos. Eram equilibradas extensões de campo e vegetação que combinavam escadas, estátuas, fontes, árvores e grutas de aspecto fantástico. Cabe citar os de Villa Madama e Belvedere, em Roma, respectivamente projetados por Rafael e Donato Bramante.
Com o barroco impôs-se o jardim cortesão francês, semelhante ao modelo italiano, embora sem distinção de níveis. Seu principal promotor foi o arquiteto e urbanista André Le Nôtre, que desenhou, entre outros, os jardins de Versalhes, Fontainebleau e as Tulherias. Neles combinava a ordem e a geometria, e mesclava racionalmente canteiros, esculturas, lagos artificiais e passeios. Esse estilo difundiu-se por toda a Europa a partir da corte parisiense. São bons exemplos os jardins de Aranjuez e La Granja de San Ildefonso, na Espanha, e os de Potsdam, na Alemanha.
Diferente do francês era o jardim britânico, que procurava imitar a natureza, usando para isso gramados, rios, bosques, ilhas e algumas construções, como pontes e pequenos pavilhões, mas sem que se notasse em grande medida a intervenção da mão humana. Além desse jardim "natural", os britânicos também gostavam de plantar pequenas áreas verdes junto a suas casas.
No século XX, as edificações progressivamente reduziram o espaço disponível para a natureza, o que provocou forte reação dos poderes públicos, com o objetivo de dotar as cidades de lugares ajardinados (parques, avenidas, praças) para passeio e descanso. A iniciativa privada também procurou criar maior inter-relação entre as residências e o meio ambiente, razão pela qual é cada vez mais freqüente a presença de pequenos jardins, com gramado, árvores e flores, junto aos novos blocos de edifícios, enquanto os terraços particulares se enchem de vasos de plantas.
Jardim rochoso
É um dos tipos de jardim de maior originalidade, pela combinação muitas vezes natural entre plantas e pedras.
O jardim rochoso construído deve situar-se, quando possível, numa encosta desprovida de grandes árvores e com blocos rochosos parcialmente enterrados, a fim de permitir posição de realce para as plantas. As pedras são dispostas com certo cuidado, para prevenir erosões, com as maiores na base. Através do jardim traçam-se caminhos mais ou menos sinuosos, permitindo o acesso a seus diferentes pontos.
Jardim japonês
Os princípios obedecidos pelo jardim japonês são totalmente diferentes dos que regem o jardim no Ocidente. A arte de construir jardins, no Japão, é muito antiga, e sofreu um processo de estruturação diverso dos demais. Historicamente, essa arte foi importada da China e da Coréia, por meio dos missionários budistas no século VI. Os primeiros jardins eram cultivados em mosteiros e, por isso, foram muito influenciados pela filosofia e a religião dominantes. O lar, para os japoneses, deve ser provido de um jardim como um elemento de conforto e alegria. O jardim é de natureza íntima e obedece a limitações espaciais definidas.
Jardins no Brasil
Foi marcante a influência, no Brasil, do paisagista francês Auguste-François-Marie Glaziou, que no século XIX construiu e reformou os mais importantes parques do Rio de Janeiro, como a Quinta da Boa Vista e o Campo de Santana, imprimindo-lhes o estilo do jardim britânico. Depois disso, o jardim brasileiro ficou praticamente parado até que, em meados do século XX, teve início um movimento renovador, em que se destacou Atílio Correia Lima, e que encontrou sua expressão máxima em Roberto Burle-Marx. Entre as mais expressivas características dos jardins de Burle-Marx destacam-se a constante introdução de novas espécies da flora tropical, o senso ecológico na maneira de grupar as plantas e a nítida preocupação de realizar a harmonia entre o jardim -- paisagem construída -- e a natureza circundante -- paisagem natural.
Jardinagem
Para criar um jardim, é preciso levar em conta seu uso (público ou privado), o terreno disponível, a estética desejada, as estações do ano e o clima, além de realizar diferentes trabalhos de cuidado e proteção das plantas que compõem a área ajardinada.
Em primeiro lugar, é necessário preparar o solo
A terra deve ser removida, a fim de arejá-la, e enriquecida com adubos e fertilizantes, para então iniciar o plantio. No processo de semeadura, que se realiza em diferentes épocas do ano de acordo com as características das plantas, as sementes são plantadas nas sementeiras. Quando atingem o tamanho adequado, os brotos são transplantados para outro lugar, já cavado e preparado, onde crescerão definitivamente (vasos, parques, jardins, terraços).
As plantas necessitam, para seu crescimento, de certas atenções, como a regadura, a poda ou corte de partes do caule para favorecer sua evolução, o tratamento com inseticidas para acabar com os insetos e parasitos, e a eliminação de ervas daninhas. Em todos esses trabalhos são necessárias ferramentas diversas, tanto para lavrar o solo (pá, enxada, forquilha, ancinho), como para fins específicos (tesoura de podar, pulverizador, mangueira para regadura).
Plantios
Os plantios jardinísticos são extremamente diversificados e desempenham numerosas funções na estrutura do jardim e no intrincado relacionamento entre o homem e a vegetação domesticada. Freqüentemente há que atender à necessidade de recobrir com plantas determinadas superfícies. Essa classe de plantios é solucionada em maior escala pelo uso de gramados e de relvados ou coberturas de solos. Os gramados são superfícies recobertas com gramíneas perenes, cujo crescimento é controlado por operações periódicas de corte. São componentes insubstituíveis na função de dar realce ou criar perspectivas para a apreciação dos demais elementos do jardim. Há uma relação muito íntima entre as exigências de iluminação e a possibilidade de estabelecer gramados. Nos locais de maior sombra, essa função é transferida a coberturas de solo especiais para tais ambientes. As coberturas de solo ou relvados são espécies herbáceas de rápido crescimento, notáveis por sua floração (margaridão), textura (pêlo-de-urso) ou pela adaptação a determinadas condições (jibóia, falsa violeta).
Em certos casos, as superfícies a recobrir são fortemente inclinadas ou até mesmo verticais (muros) e, nesses casos, apela-se para espécies radicantes (hera), casmófilas ou aptas a crescer em fendas (fúcsia) ou pendentes (Russelia).
Em outras situações, usam-se plantas para formar limitações especiais. Pertencem a essa categoria os quebra-ventos, massas vegetais alinhadas contra a direção dominante do vento cujo efeito se quer atenuar. Para esse fim são utilizadas árvores de crescimento relativamente rápido e com as copas dotadas de necessária resistência (eucalipto, tamarindo) ou grandes arbustos (Assonia). Entre estas se enquadram as cercas vivas (Calliandra, Hibiscus) e as borduras (buxo, Malpighia).
Contudo, onde o jardinista melhor pode exercer o seu talento é na estruturação dos volumes dentro da composição. A esse respeito, os principais meios são os plantios de maciços arbóreos e arbustivos, e de árvores e arbustos isolados. Presenças notáveis nesse tipo de trabalho são as palmeiras, com a verticalidade de seus fustes, e as plantas de caráter escultural (Agave, Nolina, Dracaena, Philodendron).
Outras plantas emprestam ao jardim toda a motivação decorrente de seu colorido, textura ou da faculdade de emanar perfumes. É o grupo que abrange as chamadas folhagens (Coleus, Euphorbia, Acalypha), os arbustos de floração chamativa (Calliandra, Erythrina, Callistemon) ou de textura marcante (Nerium, Parkinsonia, Pyracantha). O principal elemento cromático no jardim é representado pelas florações. As plantas floríferas podem ser espécies anuais, usadas em banquetas (crisântemo, cravina, Zinnia), plantas bulbosas (Crinum, Hippeastrum, Haemanthus) ou espécies herbáceas, arbustivas e subarbustivas (Verbena, Strelitzia, Hydrangea). A esse conjunto pertence o diversificado contingente das roseiras, que, por sua riqueza, variedade e valor como flor de corte, deram causa à individualização de um tipo peculiar de jardim -- o roseiral.
Devem ser ainda mencionados outros tipos de plantas que se salientam pela posse de qualidades singulares ou pela possibilidade de cultivo em ambientes especiais. Há aqui inicialmente toda a gama das trepadeiras, para as quais a jardinística individualizou uma solução particular com a construção de pérgulas e treliças. Segue-se o grupo de plantas sexícolas, de grande valor ornamental, cujas peculiaridades ecológicas levaram à formulação de uma solução própria -- o jardim rochoso. Outro caso é o das plantas situadas em ambientes dependentes da habitação, como se verifica em jardineiras e vasos. São capazes de crescer em pequeno volume de terra e de resistir a regras muito irregulares (gerânio, peperômia, Sansevieria). Tolerantes à secura e à sombra são as chamadas plantas para interiores (Aspidistra, Aglaonema, Brassaia). Finalmente, um grande grupo de plantas ornamentais é o das plantas aquáticas, cuja presença muito contribui para a valorização das coleções de água no interior da composição jardinística. A introdução de grupos de aquáticas no jardim é fator de motivação para os usuários, mercê da beleza de seus representantes (Cyperus, Pontederia, Tydhonodorum).
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