Várias montadoras estão se preparando para lançar carros que não emitem gases tóxicos, em resposta à pressão dos reguladores, movidos a células combustível de hidrogênio em vez de motores a gasolina.
Três montadoras divulgaram planos para colocar no mercado um número pequeno de veículos novos na Califórnia e em alguns países da Europa até o fim do próximo ano. A Hyundai Motor Co., da Coreia do Sul, deve sair na frente e fazer o primeiro lançamento no primeiro semestre deste ano, seguida pela japonesas Toyota Motor Corp. e Honda Motor Co. em 2015.
A Califórnia quer que pelo menos 15% dos veículos novos vendidos no Estado sejam livres de emissões até 2025 e sua regulamentação exige que as montadoras vendam carros elétricos ou movidos a célula combustível para atender a essa exigência. De acordo com a regra, os veículos com células combustível receberão o dobro dos créditos de emissões que os veículos elétricos.
Os testes são um esforço para determinar como os veículos a hidrogênio, que são caros, vão competir com os veículos a gasolina ou a diesel, muito mais baratos. O maior problema até agora é o custo. Depois, será preciso descobrir como levar os carros a postos para serem abastecidos com hidrogênio comprimido.
Nos Estados Unidos, um contrato de leasing de um carro de médio porte movido a hidrogênio pode custar o equivalente ao de um sedan de luxo. A parcela mensal do leasing de um Tucson, da Hyundai, movido a hidrogênio sai por US$ 499 e só para pessoas que vivem perto de postos de abastecimento. O combustível está incluído no contrato. Desde 2008, a Honda fechou contratos de leasing para cerca de 20 veículos do modelo mais antigo do sedan FCX Clarity por cerca de US$ 600 ao mês.
O preço e a escassez de locais de abastecimento têm relegado os carros movidos a hidrogênio a pequenas frotas de demonstração, principalmente na Califórnia, onde os contribuintes estão dispostos a subsidiar postos de reabastecimento e oferecer outros incentivos. O governo da Califórnia planeja construir uma rede de 100 postos de abastecimento em todo o Estado nos próximos dez anos.
A Europa também tem pressionado por carros movidos a hidrogênio. No ano passado, a Alemanha implementou um plano ambicioso para instalar postos de abastecimento em todo o país. Os regulamentos europeus se baseiam nas emissões médias de gás carbônico por veículo, portanto um carro de emissão zero ajuda a melhorar a média de uma empresa. Alguns países escandinavos também criaram impostos pesados para veículos novos a gasolina ou a diesel e dão incentivos fiscais para quem comprar veículos elétricos ou movidos a hidrogênio.
Hoje, há menos de 15 postos públicos de abastecimento de hidrogênio nos EUA. "A vantagem dos veículos movidos a célula combustível é que têm o potencial de oferecer muitas das coisas que os consumidores esperam dos veículos a gasolina hoje em dia. Para nossos objetivos de longo prazo, eles poderiam desempenhar um papel maior", diz John Swanton, especialista em poluição do Conselho de Recursos do Ar da Califórnia.
As células combustível usam uma reação química entre hidrogênio e oxigênio para gerar eletricidade e água. Num carro, a célula combustível substituiria as baterias como fonte de energia para motores elétricos, permitindo tempo de recarga mais rápido que os carros movidos a bateria elétrica, como o modelo S, da Tesla Motors Inc.
A Hyundai diz que o Tucson movido a hidrogênio pode ser reabastecido em oito minutos. A Tesla informa que uma conexão de 240 volts leva uma hora para cada cerca de 47 quilômetros rodados. O alcance é semelhante. A Hyundai afirma que o Tucson pode fazer até 483 quilômetros com um tanque, enquanto a Tesla diz que seu veículo carregado com 85 kwh faz até 483 quilômetros numa constante de 89 quilômetros por hora.
É claro que o interesse em células combustível de hidrogênio é visto principalmente como uma forma de tirar os combustíveis fósseis de veículos motorizados. Quanto a isso, o interesse tem aumentado e diminuído ao longo dos anos, em ciclos que acompanharam de perto a intensidade dos esforços de reguladores federais e estaduais para promover alternativas para combustíveis fósseis e para o preço da gasolina.
A General Motors Co., por exemplo, era uma entusiasta defensora da tecnologia de célula combustível antes do seu processo de recuperação judicial em 2009. Mas, após seu resgate pelo governo americano e mudanças amplas promovidas na sua gestão, o interesse da montadora na tecnologia de células combustível deu lugar a veículos movidos a bateria, como o híbrido Chevrolet Volt.
A GM afirma que não tem planos de vender um veículo movido a célula combustível pelo menos até 2020 e que está trabalhando com a Honda num projeto conjunto para compartilhar os custos. O diretor-presidente da Daimler AG, Dieter Zetsche, disse recentemente que a tecnologia pode se tornar comercialmente viável em dez anos.
As investidas mais recentes da Hyundai, Toyota e Honda foram impulsionadas pela necessidade de ganhar créditos de emissão zero de veículos na Califórnia e por aquilo que algumas montadoras chamam de o ritmo lento de melhoria do alcance e dos custos de baterias de íon-lítio usadas em carros elétricos.
A Califórnia exige que as montadoras vendam número de veículos de emissão zero proporcional ao seu volume no Estado. Como Toyota e Honda dominam o mercado na Califórnia, elas precisam vender mais veículos de emissão zero do que as demais. O não cumprimento da regra pode ameaçar a capacidade de vender veículos no Estado, responsável por mais de 10% das vendas nos EUA.
Entre os que apoiam os carros movidos a hidrogênio, o presidente do conselho da Toyota, Takeshi Uchiyamada, duvida que os veículos movidos a bateria sejam bem-sucedidos no curto prazo por causa de seu alcance limitado, alto custo e tempo longo de recarga. A evidência: veículos movidos a bateria representam só 0,5% dos novos veículos em circulação nos EUA.
Outra vantagem das células combustível é que a tecnologia pode ser adaptada para ser usada em caminhões grandes, algo que é mais difícil com as baterias. "As células combustível estarão no nosso futuro mais cedo do que muitas pessoas acreditam... e em número muito maior do que o esperado", disse no início do mês Bob Carter, vice-presidente sênior de operações automotivas da Toyota.